terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ATOS DOS APOSTOLOS 2 INICIO DAS MISSÕES E EVANGELISMO


  O Espírito Santo em movimento nos Atos dos                 Apóstolos, o inicio das missões

A promessa

Em dois lugares diferentes e em duas ocasiões diferentes, Jesus se referiu abertamente à descida do Espírito Santo. A primeira ocorrência foi no Cenáculo de Jerusalém, na véspera de sua morte (Jo 14.16; 15.26; 16.7 e 16.13). A segunda, no povoado de Betânia, perto de Jerusalém, quarenta dias após a ressurreição e no dia de sua ascensão (At 1.8).

Cerca de novecentos anos antes, porém, por boca do desconhecido profeta Joel, Deus havia prometido: “[...] vou derramar meu Espírito sobre todo tipo de gente – Seus filhos vão profetizar e também suas filhas. Seus jovens terão visões e seus velhos terão sonhos. Vou derramar meu Espírito até sobre os escravos, tanto homens quanto mulheres” (Jl 2.28-29). Quando a promessa se cumpriu, logo veio à mente de Pedro essa passagem das Escrituras, que ele conhecia de cor, e a citou em seu discurso (At 2.16-21).

João Batista também mencionou o evento do Pentecostes: “Eu os batizo com água para mostrar que vocês se arrependeram dos seus pecados, mas aquele que virá depois de mim os batizará com o Espírito Santo e fogo” (Mt 3.11). E o próprio Jesus, além daquelas promessas proferidas no Cenáculo, fez uma curta referência à futura provisão do Espírito: “Porque naquela hora o Espírito Santo lhes ensinará o que devem dizer” (Lc 12.12).

A espera

A descida do Espírito dependia da ascensão de Jesus, como ele declarou: “Eu falo a verdade quando digo que é melhor para vocês que eu vá. Pois, se não for, o Auxiliador não virá; mas, se eu for, eu o enviarei a vocês” (Jo 16.7). Porém, o Espírito Santo não veio na tarde nem no dia seguinte a sua ascensão. Jesus prometeu a vinda do Espírito, mas não forneceu nem o dia nem a hora desse evento próximo, pois não caberia a eles “saber a ocasião ou o dia que o Pai marcou com a sua própria autoridade” (At 1.7).

Jesus deu uns dias de folga para os discípulos. A ordem de se espalhar e de ir por todo o mundo pregar o evangelho deveria ficar suspensa até o cumprimento da promessa: “[...] fiquem em Jerusalém e esperem até que o Pai lhes dê o que prometeu, conforme eu disse a vocês” (At 1.4). A espera durou dez dias. Curioso é que a maior parte dos discípulos morava em outras cidades, especialmente na Galileia. Nesse período, eles ficaram hospedados, quem sabe, na mesma sala ampla, mobiliada e arrumada onde se reuniram com Jesus antes de sua morte (At 1.12-13). O tempo foi ocupado com reuniões de oração e a escolha de Matias para assentar-se na cadeira vaga de Judas, o traidor.

O surto

A história está cheia de “de repente”. De repente, os sabeus atacaram os servos de Jó e levaram todo o seu gado; de repente, veio um vento do deserto e derrubou a casa onde estavam os dez filhos de Jó; de repente, chegou o dia da desgraça; de repente, o muro desmoronou e caiu no chão; de repente, apareceu a mão de um homem e escreveu umas palavras na parede branca da sala do banquete de Belsazar; de repente, a terra começou a tremer. A descida do Espírito Santo aconteceu de repente ou inesperadamente. O evento era esperado, mas o dia e a hora eram desconhecidos. Aconteceu no quinquagésimo dia depois do Sábado de Aleluia, em dia de festa (Festa das Semanas) e em dia de domingo, antes das nove horas da manhã. Naquele momento, “todos os seguidores de Jesus [provavelmente os 120 mencionados no capítulo anterior] estavam reunidos no mesmo lugar [talvez num recinto qualquer do templo]” (At 2.1).

O surto, ou o impulso inicial provocado pela descida do Espírito Santo foi algo público – em contraste com o nascimento de Jesus –, notório, marcante, inesquecível e tremendo. Houve sinais audíveis – “o barulho de um vento soprando muito forte” que enchia o recinto – e visíveis – coisas parecidas com chamas que se espalhavam como línguas de fogo. Houve também alguns fenômenos. De posse do poder e da soberania do Espírito Santo, os discípulos começaram a falar em outras línguas as grandezas de Deus. Era uma formidável mistura de louvor e testemunho. Cada um dos imigrantes de diversas procedências como Palestina, Oriente Próximo, Norte da África, Sul da Europa e ilhas do Mediterrâneo, que moravam em Jerusalém, ouvia, em sua própria língua, o que os discípulos falavam. Muitos desses estrangeiros e nativos já tinham visto fenômenos extraordinários apenas cinquenta dias antes, no dia da crucificação de Jesus, como as três horas de escuridão em pleno dia e o tremor de terra. Os mais religiosos tinham conhecimento também daquele estranho e discreto fenômeno do rompimento do véu do templo exatamente após a morte de Jesus.

O fato é que todos em Jerusalém, estupefatos, não conseguiram entender o que estava acontecendo. Com a explicação do fenômeno e a pregação sobre a morte e a ressurreição de Jesus dadas por Pedro, quase 3 mil pessoas acreditaram na mensagem anunciada, foram batizadas e se juntaram ao grupo dos seguidores de Jesus (At 2.41).

O comandante

Jesus fez uma clara ligação da pessoa do Espírito Santo com a Grande Comissão: “Porém, quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra” (At 1.8). Essa associação é transparente em todo o livro de Atos, o primeiro volume da história de missões. Tão transparente que há quem sugira que o livro deveria se chamar “Atos do Espírito Santo”.

É o Espírito Santo quem comanda o trabalho. Vê-se isso claramente no ministério de Filipe e de Paulo. O Espírito ordenou a Filipe que se aproximasse daquela carruagem que levava o tesoureiro e o administrador das finanças da rainha da Etiópia. Graças a essa orientação, o homem se converteu, foi batizado e introduziu o evangelho na Etiópia (At 8.29-38). Foi o Espírito quem levou Filipe daquela estrada deserta para evangelizar as cidades entre Azoto e Cesareia (At 8.39-40).

Foi o Espírito quem interrompeu a reunião de oração daqueles cinco líderes da igreja de Antioquia e tirou dois dentre eles – Barnabé e Saulo – para o trabalho missionário (At 13.2). Graças a essa intervenção do Espírito, os dois amigos iniciaram sua primeira viagem missionária. Mesmo mais tarde separados, Barnabé e Paulo continuaram a viagem para pregar o evangelho, com itinerários diferentes.

Em outra ocasião, o Espírito Santo bloqueou por duas vezes os planos de Paulo de pregar na Ásia e na Bitínia, para forçar sua ida e de seus companheiros para a Macedônia (At 16.6-10). Graças a essa manifestação do Espírito, a Europa foi alcançada para Cristo e se tornou um celeiro missionário por vários anos. Paulo se deixava dirigir, como se pode ver no encontro que ele teve com os presbíteros de Éfeso em Mileto: “Agora eu vou para Jerusalém, obedecendo ao Espírito Santo”. Além de traçar o itinerário de Paulo, o Espírito não escondeu dele as prisões e o sofrimento que o esperavam (At 20.22-23).

Quando Pedro estava confuso com a visão dos animais imundos que teve em Jope e com o convite de Cornélio, o Espírito Santo deixou tudo claro e lhe disse: “Agora apronte-se, desça e vá com eles [os portadores do convite]. Vá tranquilo porque fui eu que mandei que eles viessem aqui” (At 10.20).

O fato é que, em trinta anos de missões, o evangelho alcançou os mais importantes centros urbanos do mundo e nele se estabeleceu (Jerusalém, Éfeso, Corinto, Atenas e Roma).

O missionário precisa dar abertura ao Espírito, para que ele o leve para o lugar certo no tempo certo, pois a visão do Espírito é panorâmica tanto no sentido geográfico como histórico. Ele tudo vê – vê o presente e o futuro. Ele tem agenda, tem estratégia, tem prioridade. Ele tem direito de comandar, de empurrar alguém para algum lugar.

A unidade

A consciência que a igreja primitiva tinha da presença do Espírito Santo era tão grande que Pedro disse a Ananias que ele havia mentido ao Espírito Santo e a Safira que ela havia conspirado contra o Espírito Santo (At 5.1-11). Não podia ser mais cuidadosa a carta pastoral que os apóstolos e os presbíteros enviaram aos irmãos de Antioquia, da Síria e da Cilícia: “Porque o Espírito Santo e nós mesmos resolvemos não pôr nenhuma carga sobre vocês” (At 15.28).

As plenitudes

É no livro de Atos dos Apóstolos que a expressão “cheio do Espírito Santo” aparece mais vezes em toda a Bíblia. Em duas ocasiões, fala-se de uma plenitude coletiva: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo”. A primeira foi no dia de Pentecostes (At 2.4) e a outra foi quando Pedro e João foram soltos da cadeia por falta de provas (At 4.31). As demais passagens mencionam uma plenitude individual: Pedro cheio do Espírito Santo (At 4.8), Estêvão cheio do Espírito Santo (At 6.5; 7.55), Barnabé cheio do Espírito Santo (At 11.24). Subentende-se que os sete diáconos eleitos eram como Estêvão, cheios do Espírito Santo, por causa da orientação dada pelos apóstolos (At 6.3).

A Bíblia fala em diferentes plenitudes negativas – mãos cheias de sangue, olhos cheios de adultério, casa cheia de coisas roubadas, cidades cheias de violência etc. – e outras positivas – uma tribo cheia da bênção do Senhor, lábios cheios de louvor, uma velhice cheia de vida, coração cheio de júbilo etc.

Não há mistério algum na expressão “cheio do Espírito”. Plenitude significa alguma coisa cheia até entornar – talhas cheias de água, cestas cheias de pães e peixes, vale cheio de ossos – ou alguma pessoa cheia de algum privilégio – cheia de graça, cheia de temor do Senhor, cheia de poder. Logo, plenitude do Espírito significa estar cheio da presença do Espírito, do poder do Espírito, da unção do Espírito, da direção do Espírito.
O contrário da plenitude do Espírito é a plenitude de si mesmo. Paulo refere-se a certas pessoas “cheias de si” (Cl 2.18). Uma plenitude não combina nem convive com a outra.

Guardadas as devidas proporções, talvez alguém possa dizer sem mentir, sem exagerar, sem se exaltar e sem tomar o nome de Deus em vão o que o profeta Miqueias declarou ao povo de Jerusalém e de Samaria, para diferenciar-se dos falsos profetas: “Mas quanto a mim, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, do amor pela justiça e da coragem para anunciar, sem medo, o castigo que Deus dará a Israel por causa de seus pecados” (Mq 3.8). Contudo, por uma questão de prudência e de recato, seria melhor deixar que os outros digam que algum de nós está cheio do Espírito Santo!

O traficante

Dois Simões se encontraram em Samaria. Um era Simão, o apóstolo, cheio do Espírito Santo. O outro era Simão, o mago, cheio de inveja. Quando Simão Pedro e João perceberam que os crentes de Samaria tinham sido batizados apenas no nome de Jesus e que o Espírito Santo ainda não tinha vindo sobre eles, os apóstolos lhes impuseram as mãos e eles o receberam (At 8.14-17). Embora batizado (por equívoco?), o feiticeiro não recebeu o Espírito Santo, e ele sabia que, por causa desse batismo de fogo, poderia fazer coisas muito mais fantásticas do que aquelas que fizera até então com as suas feitiçarias. Ele havia presenciado os milagres operados pelo poder do Espírito por meio de Filipe, como expulsão de demônios e curas de coxos e paralíticos. Se ele se apoderasse do Espírito, poderia alcançar poder e dinheiro. Assim, o mal convertido abriu a carteira e ofereceu aos dois apóstolos quanto dinheiro eles quisessem em troca de poder para impor as mãos sobre qualquer pessoa a fim de que ela também recebesse o Espírito (At 8.18-19).


Esse é o primeiro registro do desejo de explorar o poder do Espírito para fins profanos. É impressionante que tenha acontecido nos primeiros anos da história da igreja. A irreverência de Simão foi tão grave que dessa loucura cunhou-se a palavra “simonia”, que, segundo Simon Kistemaker, quer dizer “a compra ou a venda de um cargo eclesiástico ou a obtenção de uma promoção eclesiástica pelo oferecimento de dinheiro”.

fonte ultimato.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário