quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

PARABOLA DOS PEIXES BONS E RUIIN MT 13.47-50


          Parábola dos peixes bons e ruins (Mt 13:47-50)

Essa parábola solene forma um par com a que lhe é similar: a do Tri­go e do joio. Ambas mostram o bom e o mau, no princípio, lado a lado e, em seguida, separados; ambas foram explicadas por Jesus nessas pala­vras: "Assim será na consumação do século"; ambas dizem respeito ao tra­balho dos anjos que separam os ímpios dos justos; ambas registram a condenação do ímpio e o "fogo", onde haverá "pranto e ranger de dentes". Cada uma dessas parábo­las contém esse fato central que as distingue das outras a tal ponto que poderíamos ser levados a esperar que Mateus as colocasse juntas, como ele fez com a da Mostarda e a do Fermento; a do Tesouro escondi­do e a da Pérola de grande valor. Contudo, há diferenças que devem ser observadas entre a do Trigo e do joio e a da Rede. Na primeira, a cena acontece na terra; na segunda, a cena é o mar; mas em ambos os ca­sos o mundo está envolvido. Ao se­rem consideradas um conjunto, es­sas duas parábolas ensinam duas importantíssimas verdades, pois mostram que na Igreja conhecida o bem e o mal convivem juntos; e tam­bém que o tempo da separação já foi estabelecido. Assim os bons podem regozijar-se, pois têm em vista o seu futuro brilhante e eterno. Os maus devem gemer, porque, se morrerem nos seus pecados, estarão condena­dos eternamente.

Provavelmente a Parábola da rede foi transmitida por último, nessa série de sete parábolas, por focalizar a atenção no final da dispensação da graça, na consuma­ção de todas as coisas e no julgamen­to. A ênfase nessa parábola não está no usar e no puxar a rede, mas na "consumação do século". Após rela­tar a parábola, em termos tão fami­liares aos seus discípulos, Jesus dis­se que o reino dos céus será assim, quando, em sua consumação, no momento em que a rede for recolhi­da, a separação acontecerá. Como as outras três parábolas anteriores, essa sétima foi entregue a homens de fé que o Senhor introduziu nos assuntos internos e ocultos do seu reino. Claro que não seriam olhos humanos que os veriam, mas da perspectiva do conselho divino. Po­demos analisar a parábola dessa for­ma: a rede, o mar, os pescadores, os peixes e os anjos:

1. Rede. O termo que Jesus usou para rede, singularmente apropria­do para a parábola proferida no mar da Galiléia, denota uma rede gran­de, larga, pesada como chumbo, fei­ta para varrer o fundo do mar e tra­zer à tona peixes de todos os tipos e em grande quantidade em suas ma­lhas. O simbolismo da rede é eviden­te e facilmente compreendido por todos. Representa a proclamação e a apresentação do evangelho da gra­ça redentora, para colocá-la sob a responsabilidade dos homens. A ca­pacidade da rede de fazer uma var­redura larga e coletar muitos peixes ilustra o alto alcance e a efetividade da ação do evangelho, pelo qual os homens são conduzidos a professar o cristianismo e a participar da ir­mandade da igreja visível de Cristo. Para referências sobre a rede veja Jó 19:6; Salmos 66:11; Eclesiastes 9:12. Cumming diz o seguinte: "As ordenanças, a pregação do evangelho, suas ministrações e os seus meios de graça constituem e são facilmente reconhecidos como a rede em toda a sua abrangência [...] não há quem esteja em lugar tão profundo que ela não o busque; nem tão acima que ela não o alcance; nem tão mau que seja lançado fora; nem tão bom que não seja apanhado. Ela apanha a todos, bons e maus".

Dessa forma esse tipo de rede aponta para a varredura do reino de Deus levada a efeito nesse momen­to. Traz à luz a providência de Deus e passa através de toda essa dispensação, enquanto existir esse momento da eternidade que chama­mos de tempo, até que aconteça a separação eterna dos ímpios dentre os justos. Essa presente dispensação da graça, iniciada no Pentecostes, e que terminará com o segundo adven­to de Cristo, é muitas vezes apresen­tada como "o reino dos céus" (Mt 11:12). A rede do evangelho é arre­messada ao mar aberto, sem distin­ção de condição, clima, casta ou cre­do. Durante esta dispensação"Deus não faz acepção de pessoas" (At 10:34,35).

2. Mar. O mar nessa parábola re­presenta toda a massa caída da hu­manidade. "Mas os ímpios são como o mar agitado que não se pode aqui­etar, cujas águas lançam de si lama e lodo" (Is 57:20,21; Dn 7:3; Ap 13:1). Os homens vivem em um abismo tão negro de pecado, erro e cegueira! Contudo, ainda podem ser resgata­dos pelo Espírito de Deus, à medida que aceitarem os termos do evangelho. Arthur Pink afirma que o mar são as nações gentílicas, porque, nes­sa presente dispensação, a misericór­dia de Deus é dirigida aos gentios. Mas o mundo que Deus ama, inclui todas as almas, sejam judeus ou gen­tios, porque o mar do mundo é com­posto de ambos. Não há dúvida que a maioria dos peixes apanhados pela rede seja os gentios. Em termos de comparação, são poucos os judeus salvos. O Trigo e O Bom Peixe são compostos de ambos, gentios e ju­deus regenerados. Em Cristo não há judeu nem gentio. Ambos são um.

Somos informados que a rede, quando jogada dentro do mar, não trazia todos os peixes, mas juntava apenas alguns de cada espécie, para trazê-los à tona. A parábola nos ensina com isso que, embora tão glori­oso evangelho seja pregado, ele não faz com que todos que o ouvem se­jam trazidos para a Igreja de Cristo. Há sim um ajuntar e congregar de alguns "de toda tribo, e língua, e povo e nação" (Ap 5:9). A palavra ajuntar é aplicada na Bíblia para ambos: bons e maus. Sobre os bons é dito: "Recolherá os cordeirinhos" (Is 40:11); "Com grande compaixão te recolherei" (Is 54:7); "Reunir em um só corpo os filhos de Deus" (Jo 11:51,52); "Congregai os meus san­tos" (SI 50:5). Sobre os maus é dito: "Não colhas a minha alma com a dos pecadores" (SI 26:9); "São apanhados [...] se queimam" (Jo 15:6); "Ajuntai-vos, e vinde, todos os povos em re­dor [...] suscitem-se as nações [...] Me assentarei para julgar" (Jl 3:1-16).

3. Pescadores. Os discípulos com­preenderam plenamente a implica­ção dessa parábola transmitida por Jesus. Quando ele os encontrou, muitos deles lançavam ou conserta­vam as suas redes, porque "eram pescadores". Depois, ao chamá-los para o ministério, não lhes havia dito Jesus: "Fá-los-ei pescadores de homens"? Quando arremessassem ao mar a rede do evangelho, eles apa­nhariam homens vivos. Não é esse o dever de todo aquele que experimentou o poder salvador de Deus? Tira­dos para fora do mar do pecado, têm o privilégio de tentar resgatar outros. Todos os que foram perdoados deve­riam ser pescadores. Os ganhadores de almas são os pescadores de Deus. "Os pescadores estarão junto dele; desde En-Gedi até En-Eglaim have­rá lugar para se estender as redes" (Ez 47:10); "De agora em diante se­rás pescador de homens" (Lc 5:10).

Na parábola anterior (Mt 13.46) não a lição 12, Jesus está diante de nós como o comerciante em busca de belas pérolas. Ele é o prin­cipal trabalhador que reúne em tor­no de si os santos durante essa dispensação; mas a parábola à nos­sa frente nos ensina a verdade que, em sua graça paternal, ele não ope­ra sozinho. Ao mesmo tempo que é completamente verdade que Cristo por si só pode salvar as almas, con­tudo ele nunca o faz sozinho. Ele usa os santos para salvar outros. É por essa razão que na Parábola da rede o pronome é mudado. Até aqui tinha sido "ele", "O Filho do Homem" e "O Comerciante"; porém agora não é mais ele, mas eles. "Eles encaminha­ram-se até à praia". Essa é a primei­ra vez que temos o pronome eles nas parábolas. Não somos privilegiados em trabalharmos junto com Cristo? No milagre da água transformada em vinho, ele disse aos serventes: "Enchei de água essas talhas"; "tirai agora, e levai". Ao alimentar os fa­mintos, Jesus não deu o pão à mul­tidão diretamente de suas mãos. Ele o concedeu primeiramente aos seus discípulos, e então disse: "Dai-lhes de comer". Da mesma forma, os seus servos consagrados são os pescado­res que ele usa para apanhar peixes. Que nunca O desapontemos!

É impossível que não notemos que a posição reservada aos pescadores é discreta. Jesus não os men­ciona pelo nome, mas simplesmente refere-se aos mesmos como eles. Os participantes na obra de lançar a rede ao mar são mantidos incógni­tos. Que censura para o culto ao pre­gador de hoje em dia! (ICo 3:4). "Nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega". O instrumento nada é. Ele, Jesus, é tudo. O seu te­souro está em vasos terrenos para que toda a glória possa ser dele. João Batista exemplificou esse conceito quando disse sobre Jesus: "É neces­sário que ele cresça e eu diminua". Outra característica desses pes­cadores é esta: embora soubessem que a rede juntaria peixes "de todo tipo", eles separavam os bons dos ruins. Não havia dúvida com rela­ção à sua habilidade o fato de que a rede traria uma mistura de tipos di­ferentes de peixes. Estando aquela carga toda em segurança, lemos que eles "se assentavam" na praia, o que mostra que a tarefa de seleção e se­paração dos peixes bons dentre os ruins exigia tempo, cuidado e deli­beração. Em seguida eles jogavam fora todos os que não prestavam, enquanto que os peixes bons eram guardados em vasilhas. Certamen­te a aplicação de tudo isso é eviden­te. Ao mesmo tempo que pregamos o evangelho a toda criatura, é propósito de Deus que busquemos bons peixes. Em conseqüência de um es­forço evangelístico, podem surgir crenças diversas e, no entanto, o ga­nhador de almas, guiado pelo Espí­rito, estará habilitado a detectar quais serão os bons peixes e encaminhá-los para os utensílios próprios, que podem estar aqui e representam a comunhão entre os irmãos em Cristo. Enquanto a sele­ção é necessária, como na edificação de um centro de adoração, ministé­rio e comunhão cristã, o julgamento não é exercido sobre os maus. Somos responsáveis apenas pela separação, não pelo julgamento que acontecerá no futuro e será efetuado por Deus.

4. Peixe. A parábola diz que os peixes eram de "todo tipo", "bons" e "ruins". Habacuque talvez teve essa sensação de mistura, quando consi­derou os imundos e oprimidos mais justos do que ele próprio: "O inimigo a todos levanta com o anzol [...] por isso ele se alegra e se regozija. Por­tanto sacrifica à sua rede, e queima incenso à sua varredoura, porque com elas se enriqueceu a sua porção, e é copiosa a sua comida" (Hb 1:15,16). Os pescadores, é claro, não poderiam avaliar o tipo de carga con­tida na rede, ao puxá-la, até que essa estivesse sobre a praia, e os peixes fossem selecionados.

Bons e ruins na rede nos leva de volta ao trigo e ao joio que crescem juntos e são misturados um ao ou­tro. Enquanto essas parábolas sim­bolizam a igreja visível, a mistura de salvos e perdidos dentro do cris­tianismo professo faz com que aque­les que buscam encontrar uma Igre­ja visível e perfeita sejam levados a um grande desapontamento. Havia um Cão na arca, um Judas entre os apóstolos; Esaú e Jacó ainda lutam dentro do ventre da igreja visível de Cristo. Nem todos os que estão de Israel são de fato israelitas. Muitos dizem ser cristãos; porém não o são realmente. Pertencer a uma igreja visível não inclui alguém, necessariamente, no rol dos membros da Igreja verdadeira. As pessoas podem ser religiosas, contudo não regene­radas; batizadas, contudo jamais fo­ram lavadas no sangue de Cristo; professarem a fé Cristã, contudo não possuí-la (Mt 7:21). A despeito de afiliações e desejos religiosos, se o coração estiver destituído da graça de Deus, a alma estará perdida. Há apenas dois tipos de peixe: o bom e o ruim. Se não somos trigo de Deus, somos com certeza joio de Satanás.

Por peixes bons devemos enten­der os que eram sadios e podiam ser comercializados; espiritualmente representam os que pertencem ao Senhor e, por sua vez, são bons e praticam o bem. Por peixes ruins podemos visualizar os mortos e putrefatos; podres, não serviam como alimento. Malcheirosos e sem valor, foram atirados fora. A expres­são por tantas vezes usada na Escri­tura, "lançado fora", denota um es­tado de condenação. "Lançado fora da presença de Deus" expressa uma intensidade tal de sofrimento, dor e separação, que nada mais pode ser comparado a isso. Quanto à quali­dade do bom peixe um poeta antigo escreveu:

Pescador de homens mortais,
aqueles que são os salvos
Sempre o peixe santo
Do bravio oceano,
Do mar de pecado deste mundo,
Pela doçura de tua vida, Tu os atraíste e arrebataste.

5. Anjos. Através de toda essa dispensação da graça, o Espírito San­to opera ativamente na formação da verdadeira Igreja, a Noiva de Cristo, e os que lhe pertencem, como pescadores, ocupam-se da rede do evange­lho. Mas, no encerramento dessa dispensação, que terá o seu término no retorno de Cristo para receber os que são seus, ele tomará para si to­dos os peixes bons, ou trigo, e deixa­rá para trás todos os peixes ruins e o joio. E quando Cristo aparecer na ter­ra como seu justo Senhor e Rei, um ministério angelical entrará em vigor e a ação acontecerá de forma total­mente inversa. Em vez do bom ser tomado e o mau deixado, o imundo será removido e o justo deixado, para que usufrua do prazer do reino milenar do Senhor.

A declaração da execução de um julgamento completo, final e eterno está registrada em forma solene: o Filho do homem "limpará a sua eira [...] queimando a palha com o fogo que nunca se apagará" (Mt 3:12). Quando a separação entre o precio­so e o vil for levada a efeito e o inútil for atirado dentro da fornalha de fogo, onde haverá choro e ranger de dentes, quão aterrorizante será a porção dos imundos!

Crisóstomo classificou a Parábo­la da rede como "parábola terrível". Gregório, o Grande, disse sobre ela que o mais correto seria "tremer na sua presença que explicá-la". Se essa terrível ótica estivesse pelo menos evidente aos nossos olhos, como es­tava para o nosso Senhor, certamen­te nos sentiríamos imperativamen­te compelidos a advertir o imundo a escapar da ira vindoura. É de lamen­tar que não nos impressionemos o suficiente com o fato do surgimento da completa separação entre os sal­vos e os perdidos. Sabemos com cer­teza que a meticulosidade a ser usa­da nesse ato será exata. Os anjos não cometerão enganos ao distinguir entre os bons e os maus: "Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa pecado e todos os que come­tem iniqüidade [...] Então os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai" (Mt 13:41,43; Dn 12:3).

Esse julgamento tão seletivo, a que muitas parábolas se referem vi­vamente e sempre esteve na mente de Cristo, é repetido sete vezes, com ênfase extrema, repetição essa para significar que tal proposição é "de­terminada por Deus, e ele se apres­sa a fazê-la" (Gn 41:32):

Na Parábola do joio, a separação é entre o trigo e o joio;

Na Parábola da rede, a separação é entre peixes bons e ruins;

Na Parábola das bodas, a sepa­ração é dos convidados que ti­nham as vestes núpcias;

Na Parábola do servo, a separa­ção é entre servos bons e maus;

Na Parábola das dez virgens, a separação é entre virgens sá­bias e tolas;

Na Parábola dos talentos, a se­paração é entre os servos de­dicados e os negligentes;

Na Parábola das ovelhas e dos bodes, a separação é entre os dois tipos de animais.

Devemos ter e manter em mente que a separação final entre os bons e os ruins não aconteceu na praia. O joio é deixado confinado no campo e os peixes ruins são lançados fora da rede e deixados na praia. A separa­ção, agora, é necessária, mas não observada como deveria. A execução da separação final e do julgamento é outra história. Os pescadores não têm nenhuma relação com isso. No final dos tempos os anjos surgirão e separarão os imundos dentre os jus­tos; não os bons dentre os maus, como os pescadores fizeram. Os an­jos, na Parábola do trigo e do joio e na Parábola da rede, estão ocupados apenas com os imundos.

Não estamos tratando suficiente­mente da revelação bíblica sobre o ministério angelical. Tal tratamen­to pode ser encontrado na obra des­se autor O Mistério e o Ministério dos Anjos. Essa é a dispensação do Es­pírito, o período em que ele está ati­vo como agente divino e, no entanto, "há anjos que pairam ao redor" e, no final dessa dispensação, novamente intervirão na vida dos homens, tal como fizeram no passado. No presen­te, os anjos ministram aos herdeiros da salvação, mas o dia chegará quan­do eles cumprirão a rígida tarefa de separar os imundos dos justos, e lançá-los-ão dentro da fornalha de fogo. Assim expressou Butterick: "O espectro de sua doutrina é composto de cores escuras e claras". Portanto, esse assunto está claro. Os anjos se­rão os agentes da separação final. Agora, como pescadores, espalhamos a rede; os anjos farão a seleção. Jun­tamos todos, e os convidamos para que venham, bons e maus; os anjos, de acordo com a palavra de Cristo, separarão os maus dos justos e o joio do trigo.

Por fim, o Senhor, ele somente, decreta a condenação. Nossa função no presente, como pescadores, não é a de julgar, mas de declarar. E nos­sa tarefa proclamar a Cristo e sua salvação e atrair a todos, indistinta­mente, para a sua cruz. Ao mesmo tempo cumpre a nós advertir os pe­cadores sobre o Trono Branco que de­terminará qual será a porção e a con­dição eterna dos perdidos. Então ne­nhuma rede será lançada na praia, no dia do Juízo Final. Agora é o dia da graça, quando o perdido pode ser salvo, mas o último júri será o tem­po em que a condenação, já emitida, será ratificada. Que o Senhor nos habilite a espalhar a rede da salvação e a convidar a todos os homens que se arrependam e creiam, a fim de que Cristo seja o Juiz de toda a terra e com justiça faça separação entre bons e maus, no tempo que já está estabelecido!


fonte  Bibliografia Lockyer
ebdareiabranca.com

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