COMO DEVEMOS EVANGELIZAR
Para começar, o ganhador de almas tem de ter experiência própria da
salvação. É um paradoxo alguém
conduzir um pecador a Cristo, sem ele próprio conhecer o Salvador. Isto é
apontar o caminho do Céu sem
conhecê-lo. Quem fala de Jesus deve ter experiência própria da salvação. (Ver Sl 34.8 e 2 Tm 1.12.)
1. O uso da Palavra de Deus e seu estudo
constante (2 Tm 2.15)
Este é um dos fatores do crescimento espiritual e da prática de ganhar almas.
Estando nosso coração cheio da
Palavra de Deus, nossa boca falará dela (Mt 12.34). É evidente que o ganhador de
almas precisa de um
conhecimento prático da Bíblia; conhecimento esse, não só quanto à mensagem do Livro, mas também quanto ao
volume em si, suas divisões, estrutura em geral, etc. Sim,
para ganhar almas é preciso
"começar pela Escritura" (At 8.35).
Aquilo
que a eloquência, o argumento e a persuasão
humana não podem fazer, a Palavra de Deus faz, quando apresentada sob a unção do Espírito Santo. Ela é qual espelho. Quando você fala a
Palavra, está pondo um espelho diante do homem. Deixe o pecador
mirar-se neste maravilhoso espelho! Assim fazendo, ele aborrecerá a si mesmo
ao ver sua situação deplorável.
Está escrito que "Pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm 3.20). Através da poderosa Palavra
de Deus, o homem vê seu retrato sem qualquer retoque, conforme Is 1.6. No
estudo da obra de ganhar almas, há muito
proveito no manuseio de livros bons
e inspirados sobre o assunto. Há livros deste tipo que focalizam
métodos de ganhar almas; outros
focalizam experiências adquiridas, o desafio, o apelo e a paixão que deve haver no ministério
em apreço. A igreja de Éfeso foi profundamente espiritual pelo fato de Paulo ter ensinado a Palavra ali durante três anos, expondo todo o conselho de Deus
(At 20.27-31). Em Corinto ele ensinou dezoito meses (At 18.11). Veja a diferença entre essas duas igrejas através do
texto das duas epístolas (Coríntios e Efésios).
2. Uma vida correta
Paulo evangelizando pessoalmente a Félix, o governador da Judéia, disse:
"Procuro sempre ter uma
consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens" (At 24.16). A
consciência nos seus dois lados -
para com Deus e para com os
homens - deve estar limpa. Muitos crentes têm sido desaprovados por Deus por falharem nesta parte. Trabalham à toda força e frutos não há.
Perguntam: "Por que não há frutos no meu trabalho?" As Escrituras respondem em Is 52.11. Davi compreendia que o pecado é um impedimento à conversão
dos pecadores (Sl 51.2-13). Consideremos aqui os seguintes textos:
- 1 Pe 1.15 Aqui
a santidade é requerida em todas as maneiras de viver.
- Fp 1.27 Mostra
que a nossa conduta deve ser conforme o Evangelho.
- Rm
12.1,2 O ensino aqui
é que não devemos ter uma vida
conformada com o mundo. O povo de Deus
deve caminhar o mais possível distante do mundo.
Certo patrão estava examinando um grupo de motoristas, a fim de
selecionar um deles para ficar como empregado de sua firma. A certa altura do teste, surgiu a seguinte pergunta dele: "Se
vocês fossem por uma estrada, beirando
um precipício, qual seria a menor distância a que chegariam da beira do abismo, respeitando os limites de
segurança?" Os motoristas querendo demonstrar habilidade e experiência, foram dizendo: "um
metro", "menos de um
metro", "meio metro". Nenhuma resposta agradava o patrão até que um deles disse: "Eu caminharia tão longe quanto possível do
precipício". Este candidato foi aceito para o emprego.Assim deve ser também na vida espiritual... O descrente
não lê a Bíblia, mas lê a vida do crente, que de fato deve ser uma Bíblia aberta! (2 Co 3.2).
3. Aprendendo com o supremo ganhador de almas - Jesus (Mt 4.19)
Em sacrifício, amor, serviço e métodos na obra de
ganhar almas, Jesus é o nosso perfeito exemplo. Entre os diversos casos de
evangelização pessoal do Senhor Jesus, abordaremos um - o da mulher
samaritana, em João
capitulo 4. Se seguirmos os
passos de Jesus para ganhar a samaritana,
muito aprenderemos quanto à
evangelização pessoal. Em seu ministério, inúmeras vezes Jesus pregou a
milhares de ouvintes;
entretanto, um dos seus mais belos sermões - o de João 4 -, foi proferido perante uma só alma. Isto revela também a
importância do testemunho pessoal.
Noutra ocasião, Jesus dirigiu um extenso estudo bíblico para dois discípulos (Lc 24.27).
Sigamos,
pois, os passos do Senhor ao ganhar a samaritana:
3.1 Ter amor, espírito de sacrifício (vv. 4,6,8). O v.4 fala de
sacrifício; o v.6, de cansaço; e v.8, de necessidade (fome). Tudo por causa duma alma
perdida. É interessante notar que Jesus estava cansado da viagem (v.6), mas não
do trabalho. O ganhador de almas
deve estar possuído de ardente amor e compaixão pelos perdidos. O apóstolo Paulo tinha a mesma paixão (Rm
9.2,3).
3.2 Ir ao encontro do pecador (v.5). Notai como o Senhor Jesus foi
do geral ao particular: primeiro, à província de Samaria (v.4), depois à
cidade de Sicar (v.5), e por último à fonte de Jacó, para onde a mulher
deveria vir (v.6). Jamais deveremos esperar que os pecadores venham ao
nosso encontro. Jesus mostrou, em Mt 4.19,
que a obra de ganhar
almas é comparada a uma pescaria espiritual. O pescador tem de colocar-se no local da pesca, se quiser apanhar peixes. Noutras
passagens da Bíblia
encontramos o mesmo ensino, como em Lc 15.4. O profeta Ezequiel, conduzido pelo Espírito Santo, foi até os cativos do seu povo e
sentou-se entre eles (Ez 3.14,15).
3.3 Paciência (v.6). Diz o texto: "Assentou-se". Assim fez,
esperando pelo pecador. (Ler At 17. 2.)
3.4 Entrar logo no assunto da salvação (v.
7). Há sempre uma porta aberta para
se falar da salvação. No caso da samaritana, o
assunto do momento era água e sede, e logo
Jesus falou da água da vida que sacia a sede da alma. Vemos um caso idêntico em Atos capítulo 8. Aí o assunto era leitura e logo o servo de Deus iniciou a conversa com uma pergunta também sobre leitura (v.30). Em João, capítulo 3, quando Jesus conversava com Nicodemos, talvez soprasse uma brisa, e logo Ele usou o vento como figura (v.8).
3.5 Ficar
a sós com quem está falando (v. 8). Quando alguém estiver falando
com um pecador a respeito da salvação, evite
perturbá-lo, a menos que seja convidado.
3.6 Deixar os preconceitos raciais
ou sociais (vv. 9,10). Jesus veio desfazer todas as barreiras que impedem a perfeita relação entre
Deus e o homem, e entre este e seu semelhante. Os preconceitos têm causado grandes males na sua ação
destruidora de separar, ao passo
que Jesus veio unir (Ef 2.11-22).
3.7 Não se afastar do assunto da
salvação (vv. 9-13). No v.9, a mulher alega o problema do preconceito. No v.12, Jesus volta ao
assunto inicial: água, mas agora água da vida. Nos vv.11,12, a mulher apresenta dificuldades. Nos
vv.13,14, Jesus volta ao assunto inicial: salvação. Resultado: no
v.15 já há na pecadora um
certo grau de interesse.
3.8 Fazer ver ao ouvinte que ele é
pecador (v.16). Jesus sabia que a samaritana
não tinha marido, mas para motivar
uma declaração dela, disse-lhe: "Chama
o teu marido e vem cá". Muitos pecadores não se podem salvar porque não querem reconhecer que são pecadores e muito menos perdidos.
3.9 Não
atacar defeitos, nem condenar (v. 18). Isto não quer dizer que vamos
bajular alguém ou concordar com
sua vida ímpia e pecaminosa.
3.10 Evitar discussão (vv. 20-24). Não
permitir que a conversa degenere em
discussão. No v.20, a mulher aponta o fato de os judeus desacreditarem na religião dos samaritanos. É costume também o pecador apontar falhas nas igrejas e nas vidas de certas pessoas crentes. Isto mostra que tais ouvintes, em lugar de olhar para Cristo, estão atrás de igrejas e pessoas. O alvo perfeito é Cristo (Hb
12.2). Crentes errados darão conta de si mesmos (Rm 14.12).
Diz uma autoridade
em Relações Humanas: "Você
nunca vencerá uma discussão. Se perder, perdeu mesmo,
e se ganhar perdeu também, porque um homem convencido contra a vontade,
conserva sempre a opinião anterior. Quem perde numa discussão fica ferido no seu amor próprio".
3.11 O sexo influi, às vezes (v.
27). O ideal é falar com pessoas do mesmo
sexo, sem contudo fazer disso uma lei. É provável que se uma mulher falasse à samaritana, talvez
não prendesse tanto a sua atenção.
Outros exemplos de
Jesus evangelizando pessoalmente:
a) Jesus e Nicodemos (Jo 3.1-21).
b) Zaqueu, o publicano (Lc
19.1-28).
c) O cego Bartimeu (Mc
10.46-52).
d) O malfeitor na cruz (Lc
23.39-43).
e) O doutor da lei (Lc 10.25-37).
f) O jovem rico (Mt 19.16-30).
g) A mulher adúltera (Jo 8.1-11).
h) A mulher enferma (Mc 5.25-34).
i) A mulher siro-fenícia (Mc
7.24-30).
j) O paralítico de Cafarnaum (Mc
2.1-12).
4. Ser
cheio do Espírito Santo
Nos negócios
puramente humanos, o homem pode ter êxito e promover o progresso. Isto
acontece nas construções, nas indústrias, no
comércio, na arte, nas ciências, etc,
mas no tocante à obra de Deus,
só pode de fato haver avanço quando ela é acionada pelo Espírito de Deus. Ele é que comunica vida. Quando o trabalho do Senhor passa a ser dirigido exclusivamente pelo homem, torna-se
em organização mecânica, fria e
estéril. A Igreja de Deus,
quando dinamizada pelo Espírito Santo, é de fato um organismo vivo, que cresce
sempre para a glória de Deus. A
ordem de Jesus à Igreja para pregar o
Evangelho está intimamente ligada à ordem para receber o poder do alto, como se vê em Lc 24.49; At
1.8. O poder de Deus faz a diferença. O apóstolo Pedro, fraco e tímido antes do
Pentecoste, tornou-se coluna, após o
revestimento de poder.
Todo o crente
nascido de novo tem em si o Espírito Santo (1 Co 3.16), mas o poder glorioso para o testemunho e serviço de
Cristo, vem com toda plenitude aos servos
batizados com o Espírito Santo (At 1.4,5,8; 2.1-4). Após o crente ter sido
cheio do Espírito Santo é
preciso permanecer cheio sempre (Ef 5.18). Aí não se trata de um convite divino,
mas de uma ordem.
5. É
preciso orar sempre (Ef 6.18,19)
A oração abre
portas e remove barreiras. Ela é o meio de comunicação com Deus. A Igreja
nasceu quando em oração, e é nesse ambiente que ela cresce e se desenvolve (At 1.14). Pedro estava orando quando Deus o usou para a salvação de Cornélio, seus parentes e amigos (At 10). (Ver Sl 126.6; At
20.31.) É mais fácil falar ao
pecador sobre Deus, depois que falamos com Deus sobre o pecador...
6. Fé na operação da Palavra de
Deus.
Quando falamos a Palavra de Deus,
precisamos confiar no seu autor. A nós crentes compete anunciar a Palavra; a Deus, operar. Aquele que
disse "Ide por todo o
mundo", também disse "Eis que estou convosco". Devemos falar a Palavra com plena convicção
de que é o poder de Deus para salvação de
todo o que crê (Is 55.11; Rm 1.16). Há pecadores que aceitam a mensagem da salvação com toda a simplicidade, outros não. Se o
irmão está procurando levar uma alma a Cristo, nunca desanime. Certo
irmão sueco orou 50 anos paraJesus salvar
determinada pessoa, e viu-a aceitar o Salvador. O Dr. R. A. Torrey, célebre ganhador de almas,
orou 15 anos por uma pessoa, e esta veio a crer em Jesus. Os homens que conduziam o paralítico de Lucas 5
só conseguiram chegar à presença de Jesus,
subindo ao eirado, o que não era muito
fácil. Mas não desanimaram. Isto é perseverança. Às vezes é preciso um esforço assim. Qualquer caso, mesmo
os piores, acham solução no Senhor
Jesus. Para Deus nunca houve impossíveis. Ele é especialista nisso! Portanto, é preciso anunciar a Palavra
com plena confiança na sua divina ação.
Quando você estiver falando de Jesus, ore em espírito para que Deus honre a
Palavra dele e manifeste o seu poder
salvador.
7. É
preciso amor
Fé e amor andam
juntos na evangelização. Quaisquer outros recursos serão meros paliativos, como relações humanas,
sociologia etc. Jesus foi a personificação do amor. Ele salvou os
pecadores amando-os até o fim (Jo 13.1). Sua posição ao morrer de braços
abertos na cruz é a expressão máxima do amor. Ali, num gesto de infinito alcance, Ele uniu os dois povos com seus
braços acolhedores (judeus e gentios).
8. A
apresentação pessoal
Cuide disso. Sua
aparência é importante, como é importante a mensagem que você leva. Deus pode usar quem Ele quiser e o que
Ele quiser, até uma queixada de
jumento, como no caso de Sansão, mas quanto à sua aparência pessoal, irmão, fica a
seu critério. Cuide de
sua apresentação, mas sem exagero. Roupa passada, gravata no lugar, limpeza geral, inclusive das unhas;
barba bem feita, cuidado com o hálito. O traje deve ser modesto, decente e
de bom gosto. Um traje mundano, imoral e
indecente não é próprio do cristão; pode
atrair o povo, mas não para
Cristo. Não permita que seu traje seja motivo de atração para os
ímpios, desviando, assim, a atenção a
Cristo. Diz a Palavra de Deus no Sl 103.1: "Tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome".
9. O uso da
fala (1 Co 14.9)
Ao ler a Bíblia
ou falar ao pecador, procure evitar solecismos prosódicos, observando a
pronúncia correta das
palavras, o que inclui todas as suas letras. Evite o pedantismo a todo o custo, porque
logo será descoberto.
Pedantismo é falsa cultura. Na pronúncia da língua portuguesa atente para a acentuação, entonação e pontuação. Uma
dicção exata impõe-se e dá
destaque. Jesus certamente observava
bem estas regras. O correto emprego das palavras é também muito importante. Por exemplo, nunca dizer
"verso" em lugar de "versículo",quando referir-se às
divisões dos capítulos da Bíblia o certo é "versículo".
Jesus ensinou seus discípulos a orar,
mas não a pregar, porque aprender
a falar e pregar é tarefa nossa.
Jesus unge a mensagem e opera por meio dela. Por meio da oração buscamos o Senhor para que Ele inspire e ilumine
a pregação. O que é para o homem fazer. Deus não executa. (Ver Jo 11.39.) Um auxiliar valioso para a grafia e pronúncia correta dós nossos vocábulos é o "Vocabulário
Ortográfico da Língua
Portuguesa", edição de 1981.
O meio ambiente de pessoas cultas
também influi poderosamente na boa formação linguística e cultural. O apóstolo Paulo nunca desprezou os livros (2 Tm 4.13). É de grande valor o estudo de bons livros, como concordância, dicionários, gramáticas, manuais doutrinários, etc.
10. O
manuseio prático da Bíblia
É muito importante
o pleno desembaraço no manuseio
do volume sagrado. Isto significa saber onde
estão as passagens necessárias e localizá-las no volume sagrado com rapidez. É imperioso conhecer
a abreviatura de cada livro. Como já foi dito,
este curso de evangelismo pessoal adota o sistema mais simples de abreviar os livros da Bíblia: apenas duas
letras para cada livro, sem ponto abreviativo.
Há outros
sistemas, mas esse é o mais simples. Nunca
cite um versículo incompleto ou de maneira
duvidosa. Isso compromete. Também nunca acrescente ou subtraia palavras do texto bíblico, mutilando-o. Quanto a
isso é bom atentar para a advertência
de Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5,6; Ap 22.18,19. Neste curso temos de memorizar muitos textos da Palavra de Deus. Se isso parecer difícil ou impossível, lembremo-nos de Fp 4.13.
11. O
uso de folhetos e literatura em geral
Nunca distribua
nada sem primeiro ler para si. Há
um provérbio que diz: "Nem tudo que brilha é ouro". Ande sempre
munido de porções impressas da Palavra de Deus: folhetos, revistas, Novos Testamentos. Bíblias completas ou porções dela. Há ocasiões em que não se pode falar nem ingressar em determinados
lugares, mas a Palavra de Deus pode fazer
tudo isso. Milhares já foram salvos pela mensagem impressa. Distribua a
mensagem conforme a situação do
momento.
O agricultor,
quando semeia, escolhe a semente antes de lançá-la ao solo; ele assim faz
porque os terrenos são diferentes. Também se pode evangelizar por meio de cartas pessoais. Neste caso, as cartas
devem sempre ser manuscritas, a fim de conduzir
o toque pessoal. Na Bíblia temos muitas mensagens em forma epistolar.
Fonte: Pr Antonio Gilberto em A pratica
do Evangelismo Pessoal,CPAD ,1982
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