A IMPORTANCIA DA ESCATOLOGIA
M1 João
2.18-25,28.
18 - Filhinhos, é já a última
hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito
anticristos; por onde conhecemos que é já a última hora.
19 - Saíram de nós, mas não eram
de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se
manifestasse que não são todos de nós.
20 - E vós tendes a unção do
Santo e sabeis tudo.
21 - Não vos escrevi porque não
soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da
verdade.
22 - Quem é o mentiroso, senão
aquele que nega que Jesus é o Cristo? E o anticristo esse mesmo que nega o Pai
e o Filho.
23 - Qualquer que nega o Filho
também não tem o Pai; e aquele que confessa o Filho tem também o Pai.
24 - Portanto, o que desde o
princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o
princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai.
25 - E esta é a promessa que ele
nos fez: a vida eterna.
28 - E agora, filhinhos,
permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não
sejamos confundidos por ele na sua vinda.
Escatologia é um termo constituído de
duas palavras gregas: escathos e logos, que se traduzem por “últimas
coisas” e “tratado” ou “estudo”. É o estudo acerca de coisas e eventos futuros
profetizados na Bíblia. Nas primeiras palavras do texto de Ap 1.1 podemos
entender o sentido da escatologia para a Igreja: “Revelação de Jesus Cristo, a
qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem
acontecer”. Em resumo, significa para os cristãos “o estudo ou a doutrina das
últimas coisas”.
I. O CAMPO DA ESCATOLOGIA BÍBLICA
1. A escatologia tem sua base na revelação
divina. A Bíblia é a revelação da vontade de Deus à
humanidade. Inicialmente, Deus escolheu a semente de Abraão, ou seja, o povo de
Israel, para revelar a sua vontade. Mais tarde, Deus ampliou o campo da sua
revelação e formou um novo povo, a Igreja, constituída de judeus e gentios (Ef
2.11-19). A partir de então, a Igreja é o alvo da revelação divina. Toda a
revelação aponta para o futuro e a Igreja caminha neste mundo com uma
esperança, pois é identificada como “peregrina e forasteira”, 1 Pe 2.11. Ela
existe por causa da esperança (Rm 5.2; 8.24; Ef 4.4; 1 Ts 4.13). A esperança
indica uma meta; traça planos para um futuro. O mundo pagão se fecha dentro de
um fatalismo histórico, sem expectativas, sem futuro, mas a Bíblia revela o
futuro.
2. A escatologia pertence ao campo da
profecia. A preocupação principal do estudo da escatologia é
interpretar os textos proféticos das Escrituras. As verdades proféticas se
tornam claras e definidas quando se tem o cuidado de interpretá-las seguindo os
princípios de interpretação, observando o seu contexto histórico e doutrinário.
O apóstolo Pedro teve o cuidado de explicar essa questão quando escreveu: “E
temos mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos,
como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela
da alva apareça em vosso coração”, 2 Pe 1.19. Na verdade, o apóstolo procura
contrastar as idéias humanas com a palavra da profecia escrita na Bíblia. Ele
fortalece a origem divina das Escrituras e da sua profecia. Não podemos duvidar
nem admitir falha na Palavra de Deus. Ela é inspirada pelo Espírito Santo (2 Tm
3.16). A inerrância das Escrituras tem sua base na infalibilidade da Palavra de
Deus. Outrossim, o mesmo autor declara que “nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de
homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito
Santo”, 2 Pe 1.20,21.
II. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA ESCATOLOGIA
Na história da Igreja têm sido
adotados vários métodos de interpretação no que concerne às escrituras
proféticas. Eles têm produzido explicações e posições que obrigam os cristãos a
serem cautelosos. Há idéias divergentes, por exemplo, com respeito ao
arrebatamento da Igreja. Alguns o admitem antes e outros crêem que se dará no
meio da Grande Tribulação. As teorias são várias, mas precisamos ser definidos
sobre o assunto. Para isso, dois métodos de interpretação devem merecer a nossa
atenção.
1. O método alegórico ou figurado. Alguns
teólogos definem a alegoria “como qualquer declaração de fatos supostos que
admite a interpretação literal, mas que requer, também, uma interpretação moral
ou figurada”. Quando interpretamos uma profecia bíblica, sem atentarmos para o
seu sentido real, figurado ou literal, negamos o seu valor histórico, dando uma
interpretação de somenos importância. Corremos o risco de anular a revelação de
Deus naquela profecia. Daí, as palavras e os eventos proféticos perderem o
significado para alguns cristãos.
Quando o sentido de uma profecia é
literal e se interpreta alegoricamente, se está, de fato, pervertendo o
verdadeiro sentido da Escrituras, com o pretexto de se buscar um sentido mais
profundo ou espiritual. Por exemplo, há os que interpretam o Milênio alegoricamente.
Não acreditam num Milênio literal. Por esse modo, além de mutilarem o sentido
real e literal da profecia, anulam a esperança da Igreja.
Tenhamos cuidado com interpretações
feitas superficialmente ao bel-prazer das especulações do intérprete, com idéias
próprias ou ao que lhe parece razoável. Declarações como: “eu penso que é
isso”, “eu sinto que é isso”, são típicas de interpretações vaidosas,
irresponsáveis e vazias de temor a Deus. Portanto, o método alegórico deve ser
utilizado corretamente. Paulo utilizou-o em Gálatas 4.21-31. Ele tomou as
figuras ilustradas no texto com fatos literais da antiga dispensação, mas
apresentou-os como sombras de eventos futuros.
2. O método literal e textual. Esse
é o método gramático-histórico. Isto é: se preocupa em dar um sentido literal
às palavras da profecia, interpretando-as conforme o significado ordinário, de
uso normal. A preocupação básica é interpretar o texto sagrado consoante a
natureza da inspiração da profecia. Uma vez que cremos na inspiração plena das
Escrituras através do Espírito Santo, devemos atentar para o fato de que há
textos que têm apenas um sentido espiritual, sem que exija, obrigatoriamente,
uma interpretação literal ou figurada.
Ambos os métodos são válidos, mas
devem ser utilizados com cuidado e precisão. Há uma perfeita relação entre as
verdades literais e a linguagem figurada. Temos o exemplo bíblico da
apresentação de João Batista no texto de João 1.6, que diz: “Houve um homem
enviado de Deus, cujo nome era João”. Notemos que o texto está falando
literalmente de um homem, cujo nome, de fato, era João. Os termos empregados
referem-se literalmente a alguém fisicamente. Mais tarde, João Batista, ao
identificar Jesus, usou uma linguagem figurada, quando diz: “Eis aí o Cordeiro
de Deus”, Jo 1.29. Na verdade, Jesus era um homem real e literal, mas João usou
a forma figurada para denotar o sentido literal da pessoa de Jesus.
III. A PROFECIA NA PERSPECTIVA ESCATOLÓGICA
Não entenderemos a profecia bíblica
se a confundirmos com “o dom da profecia”. A profecia bíblica tem um caráter
inerrável, porque ela está nas Escrituras inspiradas pelo Espírito Santo. A
profecia, como dom do Espírito, tem a sua importância no contexto da Igreja de
Cristo na Terra, pois depende de quem a transmite e, por isso, sujeita a erro e
julgamento (1 Co 14.29), e não pode ter validade se a mesma choca-se com o
ensino geral das Escrituras.
1. A profecia cumprida e a futura. Para
que a profecia bíblica tenha o crédito que merece, devemos estudá-la no que
concerne ao que já foi cumprido e, também, referente ao futuro. Uma grande
parte dos livros da Bíblia contém predições. Quando estudamos as profecias
cumpridas podemos enxergar o seu caráter divino, e fazer distinção com as
profecias não cumpridas. Jesus, em seu discurso aos discípulos no aposento
alto, falou do ministério do Espírito Santo após sua ascensão aos céus, e
disse: “Ele vos ensinará e vos anunciará as coisas que hão de vir”, Jo 16.13.
2. A profecia e o ministério da
Palavra. Toda declaração bíblica sobre profecia é tão crível
quanto àquelas declarações históricas. Certo autor de teologia declarou que “a
história da raça humana é a história da comunicação de Deus com o homem”. Deus
mesmo recorre à sua Palavra, não como uma simples evidência da verdade
declarada, mas como a única forma pela qual nós podemos obter uma perfeita e
completa visão do propósito divino em relação à salvação. Por isso, precisamos
observar a história do passado, presente e futuro. Devemos ter confiança de que
assim como teve cumprimento a Palavra de Deus no passado e o tem no presente, o
mesmo acontecerá com as profecias relacionadas ao futuro.
CONCLUSÃO
As Escrituras Sagradas apresentam um
só sistema de verdade. Não importa o que dizem as várias escolas de
interpretação. Suas interpretações podem variar e até estar equivocadas. E, nem
a Bíblia se presta a dar apoio a qualquer sistema de interpretação. O futuro é
uma parte do plano de Deus, e só Ele conhece tudo o que encerra a profecia. As
opiniões humanas têm valor enquanto estiverem em conformidade com as
Escrituras.
Além de ser um dos capítulos da
dogmática cristã, ou seja, o estudo sistemático e lógico das doutrinas
concernentes às últimas coisas, há quatro outros tipos de escatologia, segundo
nos apresenta o Dicionário Teológico (CPAD):
“Escatologia consistente. Termo
nascido com Albert Schweitzer, segundo o qual as ações e a doutrina de Cristo
tinham um caráter essencialmente escatológico. Não resta dúvida, pois, de que o
Senhor Jesus haja se preocupado em ensinar aos discípulos as doutrinas das
últimas coisas. Todavia, sua preocupação básica era a salvação do ser humano.
Ele também jamais deixou de se referir à vida prática e sofrida do homem.
Seus ensinos, por conseguinte, não
foram deformados por qualquer ênfase exagerada. Nele, cada conselho de Deus
teve o seu devido lugar”.
“Escatologia idealista. Corrente
doutrinária que relaciona a escatologia bíblica à verdades infinitas. Os que
defendem tal posicionamento, alegam que a doutrina das últimas coisas não terá
qualquer efeito prático sobre a história da humanidade. Relegam-na, pois, à
condição de mera utopia.
Mas, o que dirão eles, por exemplo,
acerca das profecias já cumpridas? Será que estas não referendam as que estão
por se cumprirem? Não nos esqueçamos, pois, ser a profecia a essência da
Bíblia. Se descrermos daquela, não poderemos crer nesta”.
“Escatologia individual. Estudo
das últimas coisas que dizem respeito exclusivamente ao indivíduo, tratando de
sua morte, estado intermediário, ressurreição e destino eterno. Neste contexto,
nenhuma abordagem é feita, quer a Israel, quer a Igreja”.
“Escatologia realizada. Ponto
de vista defendido por C. H. Dodd, segundo o qual as previsões escatológicas
das Sagradas Escrituras foram todas cumpridas nos tempos bíblicos. Atualmente,
portanto, já não nos resta nenhuma expectativa profética, de acordo com o que
ensina Dodd.
Gostaríamos, porém, que ele nos
respondesse as seguintes perguntas:
• A
Segunda vinda de Cristo já foi realizada?
• A
grande tribulação já é história?
• O
julgamento final já foi consumado?”.
A escatologia tem profunda relação
com a profecia. Não podemos evitar nem negligenciar a profecia. Se trouxermos o
estudo da Bíblia apenas para a esfera presente, como trataremos das profecias
que nos estimulam a vigiar acerca da vinda de Cristo? Há um outro fator
importante nessa relação entre a escatologia e a profecia que é o seu cumprimento
passado. São profecias que foram faladas ou registradas bem antes dos eventos
profetizados, principalmente, aquelas relativas a Cristo. As profecias quanto à
sua primeira vinda se tomaram históricas pelo seu cumprimento literal (Is 7.14;
Mq 5.2; Is 11.2; Zc 9.9; Sl 41.9; Zc 11.12; Sl 50.6; Sl 34.20; Is 53.4-6).
Portanto, a relação da escatologia com a profecia não é teórica, porque tem o
testemunho das Escrituras.
Compreender a linguagem da mensagem
profética no estudo da escatologia é de fundamental importância. Toda e
qualquer declaração profética depende da linguagem. Expressões simples do
conhecimento humano foram usadas e inspiradas pelo Espírito Santo aos profetas,
para que, na apresentação da mensagem profética, não houvesse confusão na sua
compreensão. A linguagem da profecia bíblica é singela e clara, mesmo quando
ela vem em forma alegórica. Seu objetivo primordial é apresentar as verdades
divinas. Todo aquele que ministra a Bíblia é chamado por Deus para declarar
“todo o conselho de Deus” (At 20.27). Não há como escapar da responsabilidade
de conhecer e interpretar corretamente os textos bíblicos proféticos.
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