CRISTOLOGIA
João 1.1-5,9-14.
1 - No princípio, era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 - Ele estava no princípio com Deus.
3 - Todas as coisas foram feitas por ele, e
sem ele nada do que foi feito se fez.
4 - Nele, estava a vida e a vida era a luz dos
homens;
5 - e a luz resplandece nas trevas, e as
trevas não a compreenderam.
9 - Ali estava a luz verdadeira, que alumia a
todo homem que vem ao mundo,
10 - estava no mundo, e o mundo
foi feito por ele e o mundo não o conheceu.
11 - Veio para o que era seu, e
os seus não o receberam.
12 - Mas a todos quantos o
receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu
nome,
13 - os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
14 - E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade.
Cristologia
é uma das doutrinas fundamentais da Bíblia e da Teologia Cristã. A Doutrina de
Cristo é o eixo pelo qual circulam as promessas messiânicas do Antigo
Testamento, e seu cumprimento no Novo. Nesta lição, estudaremos temas que
constituem profundos mistérios da fé cristã, tais como, a encarnação do Verbo de
Deus e suas duas naturezas, divina e humana.
Esses
dois assuntos foram motivos de muitos debates em diversos concílios da igreja
cristã, entre os quais, o de Éfeso, em 431, e o de Calcedônia, em 451. Foi
justamente em razão desses e de outras controvérsias, que muitos hereges foram
exilados, e a ortodoxia cristã manteve essas doutrinas de acordo com as
Sagradas Escrituras.
O termo “Cristologia” procede de duas
palavras gregas, “Christos”, que significa “Ungido”, “Messias”, e “logia”, traduzido por “estudo”, “ciência”
ou “tratado”. Cristologia é o estudo da pessoa, natureza, obra e ofício de
Cristo, segundo as Escrituras. No que diz respeito à natureza de Cristo, esta é
singular, pois ao mesmo tempo em que Jesus Cristo é Deus, no sentido pleno e
absoluto do termo, também assumiu a natureza humana, com exceção do pecado, era
sua totalidade e perfeição. Jesus era, em sua encarnação, plenamente Deus e
completamente humano em todas as áreas de sua vida. No entanto, duas verdades
devem ser afirmadas: 1) as duas naturezas nunca se confundem; 2) as duas
naturezas não implicam duas personalidades. As naturezas divina e humana
coexistem com suas diferenças, mantendo suas características peculiares em uma
mesma pessoa. Assim, Jesus e perfeito em divindade e perfeito em humanidade;
verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Os nomes e títulos concedidos pelas
Escrituras ao Senhor Jesus, revelam sua natureza, ministério e ofícios. O
estudo dos nomes e títulos de Cristo e tão importante para compreendermos sua
natureza e ministério, que o conhecido teólogo franco-alemão, Oscar Cullmann
(1902-1999), ao desenvolver o tema da cristologia em o Novo Testamento,
valeu-se dos nomes e títulos de Cristo como metodologia.
.
Esvaziamento: Do grego ekenōsen,
“esvaziar”. Doutrina que trata da auto-renúncia de Jesus ao assumir a natureza
humana, porém, sem deixar de ser Deus.
Discorrendo sobre a dupla natureza de
Nosso Senhor, escreveu admiravelmente J. Blanchard: “Quando Jesus desceu à
terra não deixou de ser Deus; quando voltou ao céu não deixou de ser homem”.
Se não crermos em Jesus como
verdadeiro homem e verdadeiro Deus, como haveremos de recebê-lo como o Nosso
Suficiente Salvador? Ver 2 Tm 2.8; Jo 1.14; Fp 2.7,8.
Nesta lição, entraremos a estudar a
Cristologia: o estudo ordenado e sistemático de Cristo Jesus na Bíblia.
Principiando com as profecias do Antigo Testamento, vai a nossa abordagem até
ao triunfo final do Nazareno. Como não poderemos apresentar uma cristologia
exaustiva, buscaremos expor essa doce e maravilhosa doutrina em sua essência.
I. A ENCARNAÇÃO DO VERBO DE DEUS
A encarnação do Verbo de Deus não é
um mero conceito teológico; é um dos maiores mistérios das Sagradas Escrituras,
sem a qual seria impossível a nossa redenção.
1. O Verbo de Deus. Abrindo
o seu evangelho, escreve João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e
vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade” (Jo 1.14). Deixa o evangelista bem patente que o Filho de Deus, que se
encontrava no seio do Pai, foi concebido pelo Espírito Santo para habitar entre
nós (Sl 2.7; Is 7.14; Jo 1.18;3.16). Por que João denomina-o Verbo de Deus?
Sendo Cristo o executivo do Pai, todas as coisas vieram à existência por
intermédio dEle; sem Ele, nada do que é, existiria.
2. O esvaziamento de Cristo. Em
sua encarnação, o Cristo tornou-se em tudo semelhante a nós, exceto quanto à
natureza pecaminosa e ao pecado (Fp 2.7,8 - ARA).
Em que consistiu o auto-esvaziamento
de Cristo? Certamente não esvaziara-se Ele de sua divindade; porquanto, em todo
o seu ministério terreno, manteve-a incólume. Aliás, foi Ele, em seu estado de
humilhação, reconhecido como Deus (Jo 1.49; 20.28). Consideremos, ainda, a sua
oração sacerdotal no Getsêmane. Ele não reivindica ao Pai a sua divindade,
porquanto esta lhe é um atributo intrínseco; reivindica, sim, aquela
imarcescível e eterna glória (Jo 17.5).
3. A concepção virginal do Filho de
Deus. Na concepção do Verbo de Deus, não houve o que se
convencionou chamar de nascimento virginal; o que realmente se deu foi o
mistério da concepção virginal, conforme profetizou Isaías: “Eis que uma virgem
conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14; Mt
1.25-24; Lc 1.35). Seu nascimento ocorreu em Belém conforme o registro de Lc 2.3-12.
Maria, como as demais mulheres,
sentiu as dores de parto ao dar à luz a Cristo; e, Jesus, à nossa semelhança,
deixou o ventre materno, natural e não sobrenaturalmente, ao nascer em Belém de
Judá. Portanto, se o seu nascimento foi natural, a sua concepção, frisamos, foi
um ato miraculoso operado pelo Espírito Santo, conforme registra Lucas 1.30-35.
II. OS TRÊS OFÍCIOS DE CRISTO
Escreveu Robert Murray M. Cheyne: “Se
eu pudesse ouvir Cristo intercedendo por mim no quarto ao lado, não temeria um
milhão de inimigos. No entanto, a distância não faz diferença: ele está
intercedendo por mim!”. Além de ser o nosso sacerdote é o Senhor Jesus o
esperado profeta e o Rei dos reis. Somente Ele teve condições de exercer,
concomitantemente, os três ofícios sagrados do Antigo Testamento.
1. O Profeta que havia de vir. Como
profeta, Jesus não se limitou a revelar o futuro. Ele ensinou, repreendeu os
soberbos e realizou sinais e maravilhas, levando a todos a uma singular
admiração (Lc 7.16). Leia Deuteronômio 18.15.
2. O Sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque. Os sumos sacerdotes, segundo a ordem de Arão,
quando morriam, eram substituídos por seus filhos. O Senhor Jesus, contudo,
porquanto eterno e Pai da eternidade, tem um sacerdócio eterno (Sl 110.4; Hb
5.6; 7.21). Morrendo em nosso lugar e por nós, vencendo a morte pela
ressurreição, intercede ininterruptamente pelos que o recebem como Salvador,
garantindo-nos, assim, eterna salvação (Hb 5.9). O que dizer da oração
sacerdotal de Cristo? (Jo 17). Sumo sacerdote, segundo a ordem de
Melquisedeque, foi o Senhor Jesus, no sacrifício vicário do Gólgota, o
oficiante e a vítima ao oferecer-se, de uma vez por todas, para resgatar-nos de
nossos pecados (Hb 7.26-28).
3. O Rei dos reis. Após
a sua ressurreição, e já prestes a subir ao Pai, afirmou: “É-me dado todo o
poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Naquele momento, assumia Jesus o governo
não somente do mundo, como de Israel e da Igreja. Ele é o soberano dos reis da
terra (Ap 1.5). É o rei de Israel e cabeça da Igreja (Jo 1.49; Cl 1.18). Como
herdeiro do trono de Davi, assumirá o governo do mundo durante o Milênio,
levando as nações remanescentes à plena obediência (Is 11.1-10; Ap 19.16).
III. A MORTE VICÁRIA E A RESSURREIÇÃO DE CRISTO
De forma enfática asseverou Thomas
Brooks: “O sangue de Cristo é a chave do céu”. Afinal, o que seria o Evangelho
sem a morte de Nosso Senhor? Nem Evangelho haveria; ela é a garantia de nossa
vida eterna.
1. A morte vicária de Cristo. Jesus
não morreu na cruz como se fora um mártir; Ele morreu vicariamente como o único
e suficiente Salvador da humanidade, a fim de garantir-nos a salvação: “Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos
pecados, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3). A morte de Cristo é assim descrita
pelo evangelista: “E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou” (Lc 23.46). Quem, assim,
atesta a morte de Nosso Senhor é o evangelista Lucas, o médico amado. Jesus,
portanto, não sofreu um desmaio como salientam os inimigos da fé; Ele, de fato,
morreu e foi sepultado.
2. A ressurreição de Jesus. A
ressurreição de Cristo é a principal doutrina do Novo Testamento. Ao expor o
seu fato e historicidade, afirmou Paulo: “E, se Cristo não ressuscitou, logo é
vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Co 15.14). Diante do exposto
pelo apóstolo, ousamos afirmar: A ressurreição de Jesus foi completa e não
meramente espiritual. Sua ressurreição física pode ser amplamente demonstrada
(Jo 20.24-28).
Em 1 Coríntios 15, conhecido como o
grande capítulo da ressurreição, afiança Paulo que o Senhor ressurreto, além de
ser visto pelos 12 e por mais alguns discípulos, foi contemplado por mais de
quinhentos irmãos. E o testemunho dos guardas romanos? E a comprovação dos
próprios inimigos do Senhor que, contrariados, viram-se constrangidos a admitir
o fato da ressurreição se bem que, em seguida, urdiram a grande mentira? (Mt
28.11-15).
CONCLUSÃO
Soube o apóstolo Paulo sintetizar, de
maneira singular a vida de Nosso Senhor em 1 Tm 3.16. “E, sem dúvida alguma,
grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne foi
justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e
recebido acima, na glória”.
Esse é o Cristo que pregamos.
Verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Somente nEle e através dEle pode o ser
humano obter a vida eterna. Sem Cristo, ninguém chegará a Deus. Amém.
“Jesus
uniu na sua pessoa as duas naturezas perfeitas.
1. Jesus teve, no seu nascimento,
duas naturezas distintas. Pela
concepção sobrenatural de Maria, Jesus herdou do seu Pai, pela operação do
Espírito Santo (Lc 1.35), a natureza divina com todas as suas características.
De Maria ele recebeu a natureza humana. As suas naturezas divina e humana se
uniram na constituição de sua pessoa de modo perfeito. As duas naturezas não se
misturam, isto é, Jesus não ficou com a sua divindade ‘humanizada’ ou com a sua
natureza humana ‘divinizada’. Quando Jesus se fez homem, continuou sendo Deus
verdadeiro, mesmo estando sob a forma de homem verdadeiro. As duas naturezas
operavam simultâneas e separadamente na sua pessoa. Jamais houve conflito entre
as duas naturezas, porque Jesus, como homem, seja nas suas determinações ou
autoconsciência, sempre conforme a direção do Espírito Santo, sujeitava-se à
vontade de Deus, de acordo com a sua natureza divina (Jo 4.34; 5.30; 6.38; Sl
40.8; Mt 26.39). Assim, Jesus possuía duas naturezas em uma só personalidade,
as quais operavam de modo harmonioso e perfeito, em uma união indissolúvel e
eterna.
2. Ouro e madeira dois símbolos de
Cristo. Essa realidade tem um símbolo maravilhoso na arca
do tabernáculo. A arca era feita de madeira de cetim, coberta de ouro (Êx
25.10-22). A tampa da arca, chamada de propiciatório, era o lugar onde o sangue
da expiação era aspergido. A arca é um símbolo de Jesus como ‘o nosso
Mediador’, que revestido de glória está no santuário do céu, onde entrou com o
sangue da expiação (Hb 9.5-7,11,12,24). Assim como a madeira da arca (símbolo
da humanidade de Cristo) não se misturava com o ouro (símbolo da divindade de Cristo),
assim também as duas naturezas de Jesus permaneciam juntas, formando a nossa
arca perfeita. Glória a Jesus!
3. As duas naturezas operavam lado a
lado na vida de Jesus. Essa operação prova sempre que Ele era homem
verdadeiro e também Deus verdadeiro. Vejamos aqui alguns exemplos:
a) Jesus
nasceu em toda a humildade (Lc 1.12; 2 Co 8.9, natureza humana), mas o seu
nascimento foi honrado por uma multidão de anjos, que o exaltaram como Messias
(Lc 2.9-14; natureza divina).
b) Jesus
foi batizado como outros seres humanos, sujeitando-se à justiça divina (Mt
3.15, natureza humana), porém Deus falou naquela ocasião: ‘Este é o meu Filho’
(Mt 3.17, natureza divina).
c) Jesus
foi tentado, como todos os demais homens (Lc 4.1-13; Hb 4.15, natureza humana),
mas, tendo Ele vencido, os anjos o serviram (Mt 4.11, natureza divina).
d) Jesus
dormiu de cansaço no barco, apesar da grande tempestade (Mt 8.24, natureza
humana), mas depois levantou-se e repreendeu o vento e as ondas (Mt 8.26,
natureza divina). Se Ele tivesse sido só Deus, jamais ficaria cansado (Sl
121.4,5).
e) Jesus,
cansado de andar, assentou-se junto à fonte para descansar (Jo 4.6, natureza
humana), porém ali Ele descobriu a situação espiritual da mulher, e lhe revelou
o caminho da salvação (Jo 4.7-29, natureza divina).
f) Diante
da morte do seu amigo Lázaro, Jesus chorou (Jo 11.33-35, natureza humana), mas
ali orou ao seu Pai, e mandou Lázaro sair da sepultura (Jo 11.32-43, natureza
divina).
g) No
jardim Jesus foi preso por homens ímpios (Jo 18.1-3,12,13, natureza humana).
Porém, quando Ele disse: ‘Sou eu’, todos os soldados caíram por terra (Jo 18.6,
natureza divina), e curou a orelha do servo do sumo sacerdote, que Pedro havia
cortado (Lc 22.51, natureza divina).
4. Jesus, às vezes, deixou
voluntariamente de fazer uso das virtudes da natureza divina. Para
fazer a vontade de seu Pai e cumprir as Escrituras (Mt 26.54), Jesus se
sujeitou à limitação humana, que havia aceitado. Por exemplo, não quis chamar
12 legiões de anjos para o livrar (Mt 26.53)”.
(BERGSTÉN, E. Teologia
Sistemática. 4.ed. RJ: CPAD, 2005, p.57-9.)
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