FARISEUS
Esboço:
I. O Nome e Descrições
II. História e Caracterização Geral
III. Doutrinas Distintivas
IV. Denúncias da Parte de Jesus e Pontos Positivos
I. O Nome e Descrições
Os Fariseus: essa palavra se deriva do vocábulo hebraico que significa
«separados», embora alguns estudiosos considerem o termo como de
significação incerta. Apareceram, pela primeira vez, como um grupo distinto,
pouco depois da revolta encabeçada pelos Macabeus (que libertou os
judeus do governo sírio opressivo), em cerca de 140 A.C. Os fariseus
usualmente vinham dentre a massa de povo comum, e nisso faziam
contraste com os saduceus, que geralmente eram provenientes da aristocracia. O
movimento desse nome, no princípio, envolvia uma espécie de grupo reformador,
que tencionava purificar e defender a crença ortodoxa. Eram os porta-vozes das
opiniões da maioria das massas populares. Após alguns anos se intrometeu nas
fileiras do farisaísmo uma grande quantidade de atitudes legalistas e
ritualistas, e isso serviu apenas para obscurecer os propósitos originais do
grupo. Embora continuassem ortodoxos em suas palavras, gradualmente foram
perdendo a presença e a aprovação de Deus, e se tornaram representantes inadequados
da porção melhor do judaísmo.
Sob a orientação de João Hircano (134-104
A.C.) exerceram grande influência e gozaram do apoio geral da população
judaica. (Ver Josefo, Antiq. XIII. 10.5-7). Porém, quando
romperam com ele, João Hircano se voltou para os saduceus. Em face
disso, os dois grupos se tornaram adversários daí por diante, especialmente no
tocante às questões do poder político, mas também no que diz respeito às
questões religiosas. Os fariseus fizeram oposição a Alexandre Janeu (103-78
A.C), e chegaram ao extremo de apelar para a ajuda do rei selêucida, Demétrio
III. Por causa disso é que, quando Janeu triunfou, vingou-se deles,
crucificando cerca de oitocentos dos líderes dos fariseus. (Ver Josefo, Antiq. XIII.
14.2). No leito de morte, entretanto, aconselhou à sua esposa que permitisse a
reinstaurarão do grupo no poder político; e então, a partir dessa data
começaram a dominar o sinédrio, o principal tribunal religioso e civil da
época, entre os judeus, o que continuou até à destruição de Jerusalém, no ano
70 D.C.
Apesar de exercerem notável autoridade,
na realidade os fariseus eram um grupo de minoria.
II. História e Caracterização Geral
Os fariseus, pelo menos em certo
sentido, representavam a continuação dos ideais de Esdras, visto que eles eram
mestres (com frequência, escribas) que tentavam levar avante o ministério de
ensino, fazendo-o com grande meticulosidade. No começo do século II A.C, eles
eram chamados hasidim, «santos de Deus». O termo hebraico perushim (fariseus)
é de origem incerta, embora seja claro que um grupo com essa denominação surgiu
após a revolta dirigida pelos Macabeus. Esse nome ocorre pela primeira vez
nos textos que tratam sobre os reis sacerdotes hasmoneanos. Grande parte
da história do farisaísmo trata a respeito da oposição que eles exerciam contra
aquilo que consideravam forças transigentes, e destrutivas do judaísmo, o
partido dos saduceus. Os saduceus representavam a abastada classe sacerdotal,
ao passo que os fariseus eram os conservadores bíblicos, até mesmo fanáticos.
Em certo sentido, o farisaísmo foi uma força democratizante dentro do judaísmo,
que tentava salvar o sistema do controle rígido da classe sacerdotal dos
saduceus. Os fariseus eram os porta-vozes das massas oprimidas, visto que,
essencialmente, pertenciam a essa classe. Portanto, entre eles apareceram
figuras radicais, que se opunham ao governo estrangeiro, ao passo que os
saduceus, felizes e satisfeitos com o poder e a prosperidade material de que
dispunham, preferiam conservar ostatus quo.
Como um todo, o farisaísmo pode ser
recomendado por seu senso de justiça e de elevados valores éticos. O Novo
Testamento, contudo, alude a eles como hipócritas e descendentes de víboras,
embora devamos relembrar que isso era aplicado a alguns poucos líderes
moralmente pervertidos entre eles.
Muitos dos primeiros líderes da Igreja
se converteram dentre os fariseus (Atos 15:5). O nobre Gamaliel, que fora
um dos mestres de Paulo, era fariseu. Naturalmente, o próprio Paulo pertencia a
esse grupo e, em Atos 23:6, em sua defesa, ele declarou: «Eu sou fariseu, filho
de fariseus...»
Os fariseus sempre foram um grupo
minoritário. Nos dias de Herodes eles eram um pouco mais de seis mil indivíduos
(Josefo, Anti. 17:2,4). O grupo não era totalmente homogêneo. Shammai foi
uma figura severa que interpretava tudo de acordo com o rigor da letra. Era de
uma família rica e aristocrática. Hilel, em contraste, era homem do povo,
e interpretava as questões com brandura, favorecendo as debilidades do povo. A
maioria dos escribas pertencia ao partido dos fariseus, e deles foram surgindo aqueles ensinos
exagerados que circundavam a lei e as observâncias legalistas. Eles determinaram que a lei contém seiscentos e treze mandamentos, dos quais duzentos e
quarenta e oito positivos e trezentos e sessenta e cinco negativos. Além
disso, cercaram essas leis com um complexo e, com frequência, exagerado sistema
de interpretação, que fazia pesar consideravelmente sobre os homens as suas
responsabilidades morais e religiosas. Para exemplificar, eles determinaram
trinta e nove tipos de ação que, supostamente, eram proibidos para o dia do
sábado. Além dessas elaborações, eles
também aumentavam a importância da lei, criando analogias, de tal modo que coisas que muitas pessoas sérias nem levariam em conta,
eles transformavam em questões importantes. Em sua ignorância, após
tantos acréscimos feitos por eles, ainda afirmavam que sua doutrina era antiga,
procedente de Moisés, como preceitos dados no monte Sinai. Ver Marcos 7:3. O
Novo Testamento serve de testemunho sobre alguns desses exageros dos fariseus,
mas a história também nos revela que havia pontos bons entre eles. A nossa
avaliação sobre qualquer grupo jamais deveria deixar de ver os dois lados,
sempre que possível.
III. Doutrinas Distintivas
As diferenças quanto às crenças
doutrinárias, entre os fariseus e os saduceus, conforme é frisado pelo
historiador Josefo, eram as seguintes (ver Guerras dos Judeus, II.8.14):
Os fariseus criam na imortalidade da alma, que haveria de reencarnar-se. Isso
poderia envolver uma série de reencarnações (doutrina essa muito comum naquela
época, que evidentemente também era defendida pelos essênios, mas também
incluía a ideia de que a alma haveria de animar o corpo ressurreto. Criam
fortemente na sorte ou determinismo, no universo, bem como na existência dos
espíritos. Os fariseus aceitavam como canônico o conjunto completo do V.T., ao
passo que, com frequência, os saduceus aceitavam como canônicos apenas os
primeiros cinco livros ouPentateuco, ainda que,
provavelmente, houvessem divergências pessoais, entre os saduceus,
acerca desse particular. Os saduceus enfatizavam a adoração no templo, o que os
fariseus também faziam. Mas estes últimos punham mais ênfase no desenvolvimento
individual e ético do que o faziam os saduceus. Os fariseus criam que os
exílios haviam sido causados pela desobediência às leis de Deus, e eles se
puseram a interpretar essa lei, desenvolvendo assim os comentários que foram
incorporados no Talmude. Esse zelo pelo ensino e pela
interpretação chegou aos exageros tão familiares a qualquer leitor do N.T. E a
sede dos fariseus pelo poder político, além de sua resistência natural a qualquer
coisa que ameaçasse interromper o seu domínio religioso e a sua influência
sobre o povo comum, fizeram deles inimigos naturais de Jesus. Juntamente com os
saduceus, os fariseus constituíam o sinédrio, o mais elevado tribunal civil e
religioso da nação judaica.
Embora Josefo não nos diga tal coisa,
sabemos que os fariseus aceitavam a comum e complexa angelologia do
judaísmo helenista. Isso reflete-se, por exemplo, em Atos 23:8. Sem
dúvida, isso incluía uma elaborada demonologia, visto que ambas as ideias são
comuns na literatura apocalíptica e pseudoepígrafa, do período que fica entre o
Antigo e o Novo Testamentos. Eles eram democratas que defendiam os
direitos do povo. Opunham-se aos aristocratas dentre os saduceus; e alguns
historiadores acreditam que isso nos leva a entender a essência mesma do
farisaísmo.
IV. Denuncias da Parte de Jesus e
Pontos Positivos
As denúncias de Jesus contra os
exageros dos fariseus encontram-se em Mateus 23:13-30 e Marcos 7:9
(comparar com Mt 15:3). O próprio Talmude também denunciava a hipocrisia deles
(Sotah, 22b), onde a similaridade com as denúncias feitas por Jesus é evidente.
Naturalmente, o Novo Testamento também elogia a vários fariseus, como Nicodemos
(Jo 3:1 ss), que falou com retidão em defesa de Jesus (Jo
7:50), mesmo depois que os próprios discípulos de Jesus haviam fugido (Jo
19:50). José de Arimatéia também fora fariseu (Mt15:43), sendo
altamente elogiado no Novo Testamento. Gamaliel era homem nobre, que
argumentou em prol da tolerância para com os cristãos primitivos (At 5:34 ss). Outros
avisaram ao Senhor Jesus de que queriam tirar-lhe a vida (Lc 13:31), e
alguns fariseus mostraram-se hospitaleiros para com ele (Lc 7:36 e ss; 11:37;
14:1). — Paulo havia sido fariseu, antes de sua conversão (Fp 3:5), não se
tendo envergonhado de poder repetir: «Eu sou fariseu, filho de fariseus...» (At
23:6).
Bibliografia J. M. Bentes
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