A
TRANSGRESSÃO HUMANA
1 João 3.1-7.
1 - Vede quão grande caridade nos tem
concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso, o mundo não
nos conhece, porque não conhece a ele.
2 - Amados, agora somos filhos de Deus, e
ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.
3 - E qualquer que nele tem esta esperança
purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.
4 - Qualquer que comete o pecado também comete
iniqüidade, porque o pecado é iniqüidade.
5 - E bem sabeis que ele se manifestou para
tirar os nossos pecados; e nele não há pecado.
6 - Qualquer que permanece nele não peca;
qualquer que peca não o viu nem o conheceu.
7 - Filhinhos, ninguém vos engane. Quem
pratica justiça é justo, assim como ele é justo.
A doutrina do pecado, chamada de
Hamartiologia, se ocupa do estudo da origem, natureza e universalidade do
pecado, conforme as Escrituras. O termo procede de duas palavras gregas: hamartia, traduzida por “pecado”, em At 3.19
e 1 Co 15.17, elogia,
que significa em At 7.38 e Rm 3.2, “palavra”, “oráculo” ou “declaração”. Em sua
origem, o pecado manifestou-se na criatura moral celeste, conforme Ez 28.1-19;
Is 14.12-15; Jo 8.44; 1 Jo 3.8,12. Mais tarde, Adão, como representante da raça
humana, também sucumbiu diante do pecado, sujeitando todos os seus descendentes
aos aguilhões do mal moral; tornando-o, portanto, universal a todas criaturas
racionais, e afetando até mesmo a criação (Gn 3; Sl 14; Rm 1. 18-32; 3.23;
5.12-21; Rm 8.20-23). A natureza do pecado é descrita mediante diversos
vocábulos hebraicos e gregos designados pelas Escrituras: hattā’â — pecado; errar o alvo (Gn 4.7); pesha‘ — revolta contra o padrão; transgredir (Gn 50.17); anomia — pecado; sem lei (Rm 6.19); asebeia — impiedade; falta de reverência (Rm 1.18).
“O pecado não é um brinquedo — é um
tirano”. A afirmação de J. Blanchard, além de explicitar a natureza do pecado,
adverte-nos severamente: embora o pecado seja considerado um mero folguedo pelos
que zombam de Deus e de sua Palavra, pode lançar-nos no inferno se não o
vencermos pelo sangue de Cristo.
Nesta lição, estudaremos a doutrina
do pecado: origem, natureza, conseqüências. Mostraremos ainda que, apesar de
seu império, curva-se ele ante o sacrifício do Calvário.
I. O QUE É O PECADO
1. Definição etimológica. Tanto
em hebraico como no grego, a palavra pecado traz esta conotação: errar o alvo.
Veio o Todo-Poderoso e ordenou ao homem: “Este é o caminho; andai nele, sem vos
desviardes nem para a direita nem para a esquerda” (Is 30.21). Mas o ser
humano, ao desprezar a recomendação divina, pôs-se a trilhar a senda da
rebelião, errando assim o alvo que lhe propusera o Criador: servi-lo na beleza
de sua santidade.
2. Definição teológica. O
pecado pode ser definido, teologicamente, como a transgressão deliberada e voluntária
das leis estabelecidas por Deus.
3. Definição bíblica. Em
1 João 3.4, temos uma definição, embora pequena, essencial e completa: “O
pecado é iniqüidade”.
II. A POSSIBILIDADE DO PECADO
1. O pecado de Satanás. Em
1 João 3.8, escreve João que o Diabo peca desde o início; ele jamais se firmou
na verdade (Jo 8.44). Dotado de livre-arbítrio, o mais excelso e maravilhoso
dos anjos, conhecido também como querubim ungido, envaideceu-se até que, em si,
foi achada iniqüidade (Ez 28.15). Seu pecado é conhecido também como a
“condenação do diabo” (1 Tm 3.6).
2. O livre-arbítrio do homem. Dotado
de livre-arbítrio e menosprezando a recomendação divina, o homem apostatou-se
contra o seu Criador, pensando que, assim, seria tão sábio e perfeito quando
Deus. Todavia, ao invés da onisciência, veio a adquirir uma consciência culpada
e envergonhada pelo pecado (Gn 3.9-11).
3. A tentação. Foram
nossos primeiros genitores tentados pela concupiscência dos olhos, pela
concupiscência da carne e pela soberba da vida (1 Jo 2.16). Eva, vendo que o
fruto da árvore era bom para se comer (concupiscência da carne), agradável aos
olhos (concupiscência dos olhos) e desejável para dar entendimento (soberba da
vida), o tomou, o comeu e ainda ofereceu ao seu marido (Gn 3.6). O ciclo da
queda estava completo. O que era tentação torna-se, agora, transgressão da Lei
de Deus.
4. O agente tentador. Por
que Satanás tentou Adão e Eva? Por devotar-lhes intenso e implacável ódio.
Assevera o Senhor Jesus que o Diabo é homicida desde o princípio (Jo 8.44).
Tivera ele permissão, mataria o homem ali mesmo, no Éden. Como não pôde
fazê-lo, induziu Adão a revoltar-se contra o Senhor. Nesta sanha, não mediu
esforços para arruinar nossos pais. Usando a serpente para levar Eva ao pecado
(2 Co 11.3), ato contínuo, induziu a esta a instigar o homem à rebelião contra
o Criador (1 Tm 2.14). Leia com atenção Gênesis 3.
III. A UNIVERSALIDADE DO PECADO
1. Os gentios. Paulo
enfoca a universalidade do pecado no mundo greco-romano, garantindo que a mais
brilhante civilização da história era, na verdade, uma abominação contra o
Senhor (Rm 1.23-27).
2. Os judeus. Em
seguida, o apóstolo trata da apostasia dos judeus, mostrando estarem eles tão
comprometidos com o pecado quanto os gentios (Rm 2.17-23).
3. A universalidade do pecado. No
capítulo três, o apóstolo é obrigado a concluir: “Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Por conseguinte, não há nação,
por mais adiantada ou por mais atrasada, que não possua uma clara noção de
pecado.
IV. AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO
Vejamos, pois, as conseqüências do
pecado.
1. No homem. Colocado
por Deus no Éden para que o lavrasse, o homem não pode considerar o trabalho
como se fora uma maldição. Devido ao pecado, porém, tornar-se-lhe-ia o trabalho
mui penoso (Gn 3.17-19).
2. Na mulher. Por
causa de sua desobediência, a mulher muito sofreria em sua mais sublime missão:
dar à luz filhos (Gn 3.16).
3. Na natureza. Não
fora o pecado, a natureza seria harmônica e benfazeja em todos os sentidos.
Assevera Paulo que a criação geme em conseqüência da transgressão adâmica (Rm
8.20-22).
4. No relacionamento com Deus. Em
conseqüência do pecado, foi o homem expulso do Éden e perdeu a comunhão que
desfrutava com o Senhor (Is 59.2). Sem Cristo, não passamos de filhos da ira
(Ef 2.3).
5. O salário do pecado é a morte. Além
de causar a morte espiritual, o pecado leva à morte física (Gn 2.17; Rm 6.23);
e caso persista o homem em seus delitos, haverá de experimentar a segunda
morte: o lago de fogo (Ap 21.8).
CONCLUSÃO
Na Bíblia, encontramos não poucos
exemplos de homens que conheciam a Deus e com Ele andavam. No entanto, por
falta de vigilância, acabaram por pecar contra o Senhor. Haja vista Davi. Tais
exemplos nulificam o que João escreveu? De forma alguma. O que o apóstolo
procura mostrar é que, na vida de quem ama a Deus, o pecado não é um hábito; é um
lamentável e triste acidente. O versículo 6 poderia ser também assim traduzido:
“O que nEle permanece, não vive na prática do pecado”.
“Classes
de Pecado
Diante do perdão de Deus, não podemos
dizer que os pecados estão divididos em classes. No entanto, para nossa própria
compreensão deles, podemos admitir que, assim como todos os edifícios e casas
não são do mesmo tamanho, assim também os nossos pecados são de diferentes
tipos.
1. Pecados de debilidade e de
presunção. Pecados de debilidade são aqueles que têm a
atenuante de serem produtos da precipitação no juízo, ou de pouca energia na
vontade, apesar de revelarem corrupção e desordem. Os de presunção são os que
resultam da premeditação e de uma vontade a serviço da injustiça (Sl 19.12,13;
Is 5.18; Ml 7.2,3; Gl 3.1; Ef 4.14).
2. Pecados de comissão e de omissão. É
comum a pessoa se preocupar mais em não fazer o mal do que em fazer o bem. No
entanto, para Deus os dois pecados têm a mesma implicação. Observemos, no
entanto, que, enquanto no Decálogo a maior parte das proibições começa com um
não, no Novo Testamento a ênfase é a de fazer o bem: Jo 13.34,35; 15.17. Em
Mateus 25.41-46, no grande julgamento, são mencionados cinco pecados de
omissão.
3. Pecados sociais. O
pecado é a infidelidade no cumprimento de nossas responsabilidades diante de
Deus, e uma das que as Escrituras apresentam é a que se refere à prática da
justiça e retidão entre os homens: Gn 39.9; Dt 24.15; 2 Rs 18.14; Êx 23.7.
Também os profetas denunciavam a falta de justiça e a opressão que havia entre
o povo, que significavam rebelião contra Deus.
4. Pecados contra o Espírito Santo. Em
Mateus 12.32 e Lucas 12.10, temos referências ao pecado contra o Espírito
Santo. É imperdoável porque não significa apenas falar contra o Espírito Santo
(Hb 6.4-6; 10.26-29), mas também atribuir maliciosamente a poderes malignos o
que é realizado pelo poder do Espírito Santo. É uma obstinada resistência à
clara manifestação do Espírito da graça”.
(LEITE FILHO, T. G. O
homem em três tempos. 3.ed., RJ: CPAD, 1997, p.114-5.)
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