ANGEOLOGIA
Hebreus 1.1-8.
1 - Havendo Deus, antigamente, falado, muitas
vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes
últimos dias, pelo Filho,
2 - a quem constituiu herdeiro de tudo, por
quem fez também o mundo.
3 - O qual, sendo o resplendor da sua glória,
e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra
do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados,
assentou-se à destra da Majestade, nas alturas;
4 - feito tanto mais excelente do que os
anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles.
5 - Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu
és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será
por Filho?
6 - E, quando outra vez introduz no mundo o
Primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.
7 - E, quanto aos anjos: O que de seus anjos
faz ventos e de seus ministros, labareda de fogo.
8 - Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono
subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu reino.
Alguns
teólogos liberais acreditam que os anjos são apenas “essências platônicas” ou
“emanações da parte de Deus”. Segundo eles, crer na existência dos anjos como
seres racionais é “grosseira mitologia”. Essa posição, ajusta-se à crença
racionalista assumida pelos saduceus no tempo de Cristo (At 23.8). Em outro
extremo estão os místicos, os cabalistas, os ufologistas, que acreditam e adoram
irracionalmente os seres celestiais, à semelhança dos antigos membros das
religiões gnósticas (Cl 2.18). Somente o ensino das Escrituras é capaz de
contestar o misticismo e o racionalismo desenfreado que têm invadido a
sociedade, e até muitas igrejas.
O vocábulo “angelologia” procede de
dois termos gregos: angelos, traduzido por “mensageiro” ou
“enviado”, e logia, “discurso” ou “tratado”.
Angelologia, portanto, é a doutrina que estuda a natureza, o caráter, e a
missão dos anjos, conforme as Escrituras. No Antigo Testamento, os anjos são
chamados de mal’āk, isto é, “mensageiro ou
representante”. Enquanto no grego e no hebraico, os anjos são denominados pela
função (mensageiro), na língua aramaica, eram chamados de qaddîsh, isto é, “santos”, descrevendo-lhes
o caráter e não apenas o ofício. Quanto ao caráter, a Bíblia afirma que os
anjos são mansos (2 Pe 2.11), obedientes e poderosos (Sl 103.20), sábios (2 Sm
14.17), e reverentes (Is 6.2,3). A respeito do ministério angélico, a Escritura
declara que: adoram a Deus (Sl 103.20; 148.2), protegem os servos de Deus (Sl
34.7), e executam juízos divinos (2 Rs 19.25).
Esta lição trata de diversos assuntos
pertinentes à doutrina dos anjos. A fim de corrigirmos alguns erros
concernentes à natureza desses seres, é conveniente que o caro professor
exponha esse tema com bastante objetividade. Apesar de os vocábulosmal’āk e angelos designarem a função dos anjos e não a sua natureza,
as expressões “anjos do Senhor” ou “anjos de Deus”, descrevem claramente os
anjos como seres morais procedentes de Deus. Isto é, possuem natureza
espiritual singular. Apresente aos alunos a tabela “Aspectos da Natureza dos
Anjos” a fim de reforçar a aprendizagem.
A angelologia bíblica é uma doutrina
que nos leva a uma dupla reflexão. Se por um lado, somos confortados, sabendo
que os anjos de Deus acham-se à disposição dos que hão de herdar a vida eterna
(Hb 1.14); por outro, apesar de sua capacidade e poderio que lhes conferiu o
Senhor, não devem nem podem ser adorados (Ap 19.10; 22.9).
I. QUEM SÃO OS ANJOS
1. Os anjos são criaturas morais. O
Senhor Deus criou os anjos não para que fossem meros autômatos; criou-os
dotados de livre-arbítrio, a fim de que o servissem amorosa e voluntariamente.
Eles são tratados por qualificativos
que lhes ressaltam a responsabilidade moral: ministros e servos de Deus (Hb
1.7; Ap 19.10).
2. A criação dos anjos. Canta
o salmista terem sido os seres angélicos criados pela Palavra de Deus: “Mandou,
e logo foram criados” (Sl 148.5; 33.6; Ne 9.6).
II. OS ANJOS NA BÍBLIA
1. Os anjos no Antigo Testamento. A
presença dos anjos, no Antigo Testamento, pode ser facilmente detectada nas
seguintes passagens:
a) Na era patriarcal. Abraão
e Jacó tiveram várias experiências com os anjos de Deus. Abraão encontrou-os
em, pelo menos, duas ocasiões (Gn 18.1-33; 22.1-17); Jacó, em três (Gn 28.12;
32.1,24).
b) Na peregrinação de Israel a Canaã. A
assistência dos anjos na peregrinação israelita rumo à Terra Prometida é
claramente observada na chamada de Moisés (Êx 3.2), na proteção de Israel
quando da travessia do Mar Vermelho (Êx 14.19) e em sua condução pelo deserto
(Êx 23.23).
c) Na vida dos hebreus em Israel. Vejamos
algumas: na época dos juízes (Jz 2.4; 6.11; 13.3); na época dos reis (2 Sm
24.16; Is 37.36); na atividade profética (Is 6.1-3; Dn 6.22). Aliás, é no
profeta Daniel que encontramos a mais desenvolvida angelologia do Antigo
Testamento. Pela primeira vez, na Bíblia, são os anjos chamados por seus
respectivos nomes: Gabriel (Dn 8.16) e Miguel (Dn 10.13; 12.1).
2. Os anjos no Novo Testamento. Eles
podem ser encontrados tanto no ministério de Cristo quanto no avanço da Igreja.
a) No ministério de Cristo. No
anúncio do nascimento de Cristo (Lc 1.26). Na proclamação de seu nascimento aos
pastores (Lc 2.9-11). Na tentação do deserto (Mt 4.11). Em sua paixão e morte
(Lc 22.43). E em sua ressurreição (Lc 24.1-12).
b) Na Igreja Primitiva. No
conforto dos discípulos após a ascensão de Cristo (At 1.10,11). No livramento
dos apóstolos (At 5.19,20; 12.7,8; 27.23,24). No auxílio à proclamação do
Evangelho (At 8.26; At 10.3).
III. O CARÁTER DOS ANJOS
1. Os anjos como seres eleitos. Os
anjos bons são assim classificados não por que hajam sido criados para serem
eleitos (1 Tm 5.21); classifica-os dessa maneira a Bíblia devido à escolha que
fizeram em servir ao Senhor dos Exércitos. Os que optaram em seguir a Lúcifer
foram chamados de anjos das trevas. Demonstra-nos isso que, à nossa semelhança,
são os anjos também dotados de livre-arbítrio.
2. Os anjos são santos. Por
que os anjos de Deus são dessa forma considerados? Em primeiro lugar, por
haverem escolhido obedecer-lhe as ordens. Quanto aos outros, optaram por seguir
a Satanás em sua rebelião contra o Senhor. Ler Mt 25.31,41 e Ap 14.10.
3. Os anjos são sábios. São
os anjos também considerados sábios em virtude de seu temor a Deus (Pv 1.7). No
Antigo Testamento, eles são vistos como sinônimo de sabedoria (2 Sm 14.20). E
esta não é meramente intelectual; é essencialmente amorosa tanto para servir e
adorar a Deus como para auxiliar os que hão de herdar a vida eterna. Os anjos
são sábios porque sabem fazer o bem e o fazem.
4. Os anjos são obedientes. Na
Oração Dominical, o Senhor Jesus mostra, de modo implícito, serem os anjos
piedosamente submissos à vontade divina (Mt 6.10). Como se pode deduzir dessa
passagem, são os anjos eficazes na execução das ordens que recebem do Senhor.
IV. A CLASSIFICAÇÃO DOS ANJOS
1. Anjo do Senhor. Este
é o mais especial dos anjos. Em nome de Deus, aceitava adoração (Êx 3.1-6; Js
5.13-15), executava juízos (Nm 22.22), intercedia pelo povo escolhido (Zc
1.12). A ciência de Deus encontra-se em seus lábios como nos lábios do
sacerdote se achava a lei e o conselho (Ml 2.7).
A expressão “o anjo do Senhor”,
dependendo da passagem, pode referir-se profeticamente ao Senhor Jesus em sua
pré-encarnação. Em Ml 3.1b, “o anjo do concerto” é uma alusão a Ele. O
“concerto” é certamente o de Mt 26.28.
2. Arcanjo Miguel. Único
arcanjo citado nas Sagradas Escrituras. Sua missão: conduzir os exércitos de
Deus (Ap 12.7) e lutar em prol dos filhos de Israel (Dn 12.1). Foi ele quem
sepultou o corpo de Moisés (Jd v.9). Ele é conhecido também como um dos
primeiros príncipes (Dn 10.13). Arcanjo significa, literalmente, principal
entre os anjos.
3. Gabriel. Conhecido
como varão, ou herói de Deus, aparece Gabriel como intérprete dos arcanos
divinos. É ele quem explicou a Daniel o mistério das setenta semanas (Dn
9.20-27). Assistindo diante do trono de Deus (Lc 1.19), anunciou a encarnação
do Verbo de Deus (Lc 1.26,27). Apesar de sua importância, a Bíblia não o
menciona como arcanjo.
4. Querubins. São
os querubins responsáveis por sustentar o trono divino e por reivindicar seja o
nome Todo-Poderoso constantemente santificado pelos homens (Gn 3.24; Sl 99.1;
Ez 10.1). Pertencia Satanás à classe dos querubins (Ez 28.14). Dos textos
bíblicos, inferimos serem os querubins uma das mais elevadas classes de seres
angélicos.
5. Serafins. A
missão dos serafins que, em hebraico, significam ardentes, é magnificar o nome
de Deus, louvando-o constantemente e exaltando a santidade divina (Is 6.1-6).
Esta é a única passagem bíblica que os menciona.
6. Outras classes angélicas. São
também tidas como classes angélicas estas categorias mencionadas por Paulo:
Jesus “é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele
foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis,
sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi
criado por ele e para ele” (Cl 1.15,16).
V. A MISSÃO DOS ANJOS
1. Enaltecer a Deus. Em
Isaías lemos que os anjos não cessam de clamar dia e noite: “Santo, Santo, Santo
é o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3). Quando do nascimento de Cristo, os anjos
formaram corais que magnificaram o nome de Deus (Lc 2.13,14).
2. Trabalhar em prol dos que hão de
herdar a vida eterna. O autor da Epístola aos Hebreus descreve a missão
dos anjos entre os santos em Hb 1.14. No livro de Atos, são os anjos enviados
em diversas ocasiões para socorrer os discípulos de Cristo (At 5.19; 12.7;
27.23).
3. Proteger a nação de Israel. Em
Daniel 12.1, lemos que, nos últimos dias, levantar-se-á Miguel, o grande
príncipe, para proteger a nação hebréia. Não fosse a intervenção divina,
certamente Israel não mais existiria, pois muitos são os seus inimigos.
Acontece que Israel é ainda povo de Deus, alvo de seus cuidados; aguarda-o um
futuro promissor.
VI. O CULTO AOS ANJOS
Embora poderosos em obras, não podem
os anjos ser adorados: são criaturas de Deus, nossos conservos e também
comprometidos com a glória de Deus. Vejamos por que os anjos não devem ser
objetos de nosso culto.
1. Os anjos são criaturas de Deus. Somente
o Criador é digno de toda a honra e de todo o louvor; sendo os anjos criaturas
(Sl 33.6), têm como missão louvar a Deus.
2. Os anjos são nossos conservos. Sendo
eles criados por Deus, consideram-se nossos conservos (Ap 19.10).
3. Os anjos são comprometidos com a
glória de Deus. Esta é recomendação dos anjos: “Adora a Deus” (Ap
22.9). Erram, portanto, aqueles que, menosprezando o Criador de todas as
coisas, buscam adorar a criatura (Rm 1.25). O culto aos anjos é uma perigosa
idolatria, na qual muitos têm naufragado. Ler também Cl 2.18.
CONCLUSÃO
É reconfortante saber que o Senhor
nos colocou à disposição um exército eficiente que nos ajuda em todas as
instâncias. Embora seja-lhes proibido anunciar o Evangelho, assistem-nos nesta
gloriosa tarefa. Todavia, não podemos, sob hipótese alguma, adorá-los. Eles não
são deuses; são servos de Deus e conservos nossos; servimos ao mesmo Senhor.
Devemos todos sempre dar graças a
Deus pelo ministério providente e protetor dos seus anjos em nosso favor.
“As
Evidências Bíblicas
Os anjos têm uma natureza
incomparável; são superiores aos seres humanos (Sl 8.5), mas inferiores ao
Jesus encarnado (Hb 1.6). A Bíblia ressalta os seguintes fatos a respeito
deles:
1. Os anjos são reais, mas nem sempre
visíveis (Hb 12.22). Embora Deus ocasionalmente lhes conceda a
visibilidade (Gn 19.1-22), são espíritos (Sl 104.4; Hb 1.7,14). Nos tempos
bíblicos, seres humanos experimentavam, às vezes, efeitos da presença de um
anjo, mas não viam ninguém (Nm 22.21-35). Às vezes, viam o anjo (Gn 19.1-22; Jz
2.1-4; Mt 1.20-25; Lc 24.4-6; At 5.19-20). Além disso, os anjos podem ser
vistos sem serem reconhecidos como anjos (Hb 13.2).
2. Os anjos adoram, mas não devem ser
adorados. São incomparáveis entre as criaturas, mas nem por
isso deixam de ser criaturas. Correspondem com adoração e louvor a Deus (Sl
148.2; Is 6.1-3; Lc 2.13-15; Ap 4.6-11) e a Cristo (Hb 1.6). Como conseqüência,
os cristãos não devem exaltá-los (Ap 22.8,9); os que fazem, perdem a sua
recompensa futura (Cl 2.18).
3. Os anjos servem, mas não devem ser
servidos. Deus os envia como agentes para ajudar os seres
humanos, especialmente os fiéis (Êx 14.19; 23.23; Nm 20.16; 22.22-25; Jz
6.11-22; Sl 34.7; 91.11; At 27.23-25; Hb 13.2). Os anjos também mediam os
juízos de Deus (Gn 19.22,24; At 12.23) e suas mensagens (Jz 2.1-5; Mt 1.20-24).
Mas eles nunca devem ser servidos, pois assemelham-se aos cristãos num aspecto
muito importante: são também servos de Deus (Ap 22.9).
4. Os anjos acompanham a revelação,
mas não a substituem total ou parcialmente. Deus
os emprega, mas não são o alvo da revelação divina (Hb 2.2s). No século I,
surgiu uma heresia que se constituiu num ‘pretexto de humildade e culto aos
anjos’ (Cl 2.18). Envolvia dura disciplina do corpo sem nada fazer para refrear
a indulgência sensual (Cl 2.23 - NVI). Sua filosofia enfatizava as idéias
falsas de que: (a) os cristãos são inferiores na sua capacidade de abordarem
pessoalmente a Deus; (b) os anjos têm capacidade superior nesse sentido; (c) a
adoração lhes é devida por causa da sua intervenção em nosso favor. Paulo
respondeu a essa heresia com um hino que glorifica a Cristo, que é a fonte da
nossa glória futura (Cl 3.1-4).
5. Os anjos sabem muitas coisas, mas
não tudo. O discernimento que têm foi-lhes concedido por
Deus; não é inato nem infinito. Sua sabedoria talvez seja vasta (2 Sm 14.20),
mas seus conhecimentos, limitados: Não sabem o dia da segunda vinda de nosso
Senhor (Mt 24.36) nem a plena magnitude da salvação dos seres humanos (1 Pe
1.12)”.
(BAKER, C. D.; MACCHIA, F. D. Seres espirituais criados. In
HORTON, S. M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. RJ:
CPAD, 1996, p.196-8.)
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