A RESSURREIÇÃO
DOS MORTOS
1 Coríntios 15.3,4,12-20.
3 - Porque primeiramente vos entreguei o que
também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,
4 - e que foi sepultado, e que ressuscitou ao
terceiro dia, segundo as Escrituras,
12 - Ora, se se prega que Cristo
ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de
mortos?
13 - E, se não há ressurreição de
mortos, também Cristo não ressuscitou.
14 - E, se Cristo não
ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
15 - E assim somos também
considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que
ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os
mortos não ressuscitam.
16 - Porque, se os mortos não
ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
17 - E, se Cristo não
ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
18 - E também os que dormiram em
Cristo estão perdidos.
19 - Se esperamos em Cristo só
nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
20 - Mas, agora, Cristo
ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem.
A doutrina da ressurreição se baseia
essencialmente sobre o fato da ressurreição de Cristo. O Mestre enfatizou e deu
um sentido especial a essa doutrina (Jo 5.28,29), deixando claro que não haverá
uma única, geral e simultânea ressurreição para os mortos, e sim, que
acontecerá em duas fases distintas: a ressurreição dos justos e a dos ímpios.
I. O QUE É RESSURREIÇÃO
1. Sentido original. Duas
palavras gregas (anastasis e egeiró) definem o termo ressurreição. Elas
claramente indicam “tornar à vida”, “levantar-se”, “erguer-se”, “despertar”,
“acordar”.
2. Sentido doutrinário. Ressurreição
é a outorga da vida ao que havia se extinguido fisicamente. E o ato do
levantamento daquilo que havia estado no sepulcro. Várias vezes nos deparamos
com a expressão “ressurreição dos mortos“ (1 Co 15.12,13,21,42), que se refere
a uma ressurreição geral, de justos e ímpios. Porém, quando se refere aos
justos, a expressão no original é restritiva e se traduz por “ressurreição de
entre os mortos”. A expressão “de entre os mortos” quer dizer os mortos tirados
do meio de outros mortos.
II. CARÁTER GERAL DA RESSURREIÇÃO
1. No Antigo Testamento. Vários
personagens importantes da história do Antigo Testamento demonstraram sua
confiança e crença na ressurreição. Abraão cria na ressurreição (Gn 22.5, Hb
11.17-19); (Jó 19.25-27); um dos filhos de Coré, cantor, salmodiava sobre a
ressurreição (Sl 49.15); o profeta Isaías cria e profetizava sobre a
ressurreição (Is 26.19); Daniel, profeta e estadista, declarou sua crença na
ressurreição (Dn 12.2,3); e Oséias, um profeta destacado em Israel, fez o mesmo
(Os 13.14).
2. No Novo Testamento. A
doutrina da ressurreição foi declarada e ensinada por Jesus em seu ministério
terrestre (Jo 5.28,29; 6.39,40,44,54; Lc 14.13,14; 20.35,36). Ensinada e
reafirmada pelos apóstolos e os pais da Igreja primitiva (At 4.2). Em Atenas,
na Grécia, Paulo pregou a Jesus Cristo e Sua ressurreição (At 17.18). Repetiu
isso, também, para os filipenses (Fp 3.11), aos coríntios (1 Co 15.20), aos
tessalonicenses (1 Ts 4.14-16), perante o governador Felix (At 24.15). O
apóstolo João, não só relatou o ensino de Cristo sobre a ressurreição, mas ele
mesmo ensinou sobre o assunto (Ap 20.4-6).
3. Alguns exemplos bíblicos de
ressurreições literais.
a) No Antigo Testamento. A
história dramática da ressurreição do filho da mulher sunamita através da
oração do profeta Eliseu (2 Rs 4.32-37). Há um caso posterior mais
impressionante. O profeta Eliseu já havia morrido e sido sepultado, e um grupo
de moabitas, para fugir de uma perseguição inimiga, lançou o seu morto na cova
onde estavam os restos mortais de Eliseu. Ao tocar os ossos do profeta o morto
reviveu e se levantou sobre seus pés (2 Rs 13.20,21).
b) No Novo Testamento. Os
exemplos são numerosos, começando pelo ministério pessoal de Jesus Cristo: a
filha de Jairo (Mt 9.24,25); o filho de uma viúva de Naim (Lc 7.13-15); seu
amigo Lázaro, em Betânia, irmão de Maria e Marta (Jo 11.43,44). Ele mesmo
venceu a morte depois de três dias no sepulcro (Lc 24.6) e, para confirmar Sua
vitória sobre a morte, alguns corpos de santos mortos anteriormente, ressuscitaram
e foram vistos em Jerusalém (Mt 27.52,53). Mais tarde, entre os apóstolos,
Pedro orou ao Senhor e fez reviver a Dorcas (At 9.37,40,41).
III. TIPOS DE RESSURREIÇÃO
1. Nacional. É,
em linguagem metafórica, a restauração e renovação do povo de Israel em termos
políticos, materiais e espirituais (Dt 4.23-30; 28.62-64; Lv 26.14-25; Ez
11.17; 36.24; 37.21; Jr 24.6; Ez 36.24,28). O cumprimento cabal da profecia
relativa à ressurreição nacional acontecerá na vinda pessoal do Messias, o
Senhor Jesus Cristo (Zc 14.1-5).
2. Espiritual. Refere-se
também metaforicamente a um renascimento espiritual dos que, tendo estado
mortos em delitos e pecados (Ef 2.1) foram vivificados espiritualmente (Rm
6.4). Há, no entanto, um sentido literal dessa ressurreição, no que tange à
ressurreição corporal. Porém, o aspecto físico da ressurreição diz respeito aos
corpos levantados das sepulturas, os quais sofrerão uma metamorfose. Isto é:
uma transformação do físico para o espiritual (1 Co 15.52; 1 Ts 4.13-17).
3. Física. Precisamos
distinguir esse tipo de ressurreição sob dois ângulos: o temporal e o
escatológico. No sentido temporal, temos o exemplo de pessoas que morreram,
foram sepultadas, e pelo poder de Deus ressuscitaram; posteriormente, voltaram
a morrer (2 Rs 4.32-37; Mt 9.24,25). No sentido escatológico, tanto os justos
quanto os ímpios vão ressuscitar fisicamente. Os justos levantar-se-ão dos seus
sepulcros na vinda do Senhor (1 Co 15.44,52; Jo 5.29). Os ímpios se levantarão,
não com os santos, mas no fim de todas as coisas, no Juízo Final (Ap 20.11-15).
IV. EXPLICANDO A RESSURREIÇÃO DOS JUSTOS E A DOS ÍMPIOS
1. A primeira ressurreição.
a) O tempo. Divide-se
em três fases distintas. A primeira fase refere-se à ressurreição de Cristo e
de muitos santos do Antigo Testamento, identificados como as “primícias dos
mortos” (1 Co 15.20; Mt 27.52,53); Jesus e aqueles santos ressurretos são o
primeiro molho de trigo colhido (Lv 23.10-12; 1 Co 15.23). Jesus foi o grão de
trigo que caiu na terra, morreu, e produziu muito fruto (Jo 12.24). Isto é:
aquele grupo de pessoas de Mt 27.52,53 foi a primícia, o primeiro molho. A
segunda fase refere-se à ressurreição dos mortos em Cristo na era
neotestamentária, a qual se efetuará no chamamento especial por ocasião da
volta do Senhor Jesus sobre as nuvens (1 Co 15.51,52; 1 Ts 4.14-17). A terceira
fase da primeira ressurreição refere-se àqueles mortos no período da Grande Tribulação,
os quais são chamados de “mártires da Grande Tribulação”. Refere-se ao restolho
da ceifa, isto é, as respigas da colheita (Ap 6.9-11; 7.9-17; 14.1-5; 20.4,5).
b) A natureza dos corpos ressurretos. Não
importa como os corpos foram sepultados, se em covas na terra, ou no fundo dos
mares e rios, ou queimados. Na realidade, os mesmos corpos mortos serão
ressuscitados. No caso dos mortos em Cristo, seus corpos serão transformados (1
Co 15.35-38), iguais ao corpo ressurreto de Cristo (Fp 3.21).
2. A segunda ressurreição.
a) O tempo. Já
sabemos que Jesus distinguiu duas ressurreições: a dos justos e a dos ímpios
(Jo 5.28,29). Alguns intérpretes entendem a ressurreição dos mortos como um só
evento, num mesmo tempo. Declaram que a única distinção é que “uns ressuscitam
para a vida” e outros “para a perdição”. Entretanto, essa teoria é largamente
refutada. Na verdade, o tempo da segunda ressurreição acontecerá no fim de
todas as coisas, após o período do Milênio na Terra, quando haverá o Juízo
Final diante do Grande Trono Branco (Hb 4.13).
b) A natureza dos corpos
ressuscitados dos ímpios. Quanto à ressurreição o processo será o mesmo que o
dos justos. Seus corpos terão todas as partículas físicas reunidas e
transformadas em corpos espirituais, mas sem qualquer glória. À semelhança dos
justos no Hades, as almas e espíritos se unirão aos
seus corpos sepultados para serem julgados por suas obras (Ap 20.12; Dn 12.2).
Nenhuma glória, nenhuma beleza, mas totalmente inglório, para que sejam
prestadas as contas perante o Supremo Juiz (Hb 4.13; Rm 2.5,6; Hb 9.27).
c) O estado final dos ímpios. Na
verdade, os ímpios ressuscitarão para uma “segunda morte”, Ap 21.8. Essa
“segunda morte” não significa aniquilamento, mas banimento da presença de Deus
(2 Ts 1.9). Esse banimento implica que todos os ímpios serão lançados no Geena,
chamado “Lago de Fogo” (Mt 25.41,46), que arde continuamente com fogo
inapagável — o tormento eterno (Ap 14.10,11).
CONCLUSÃO
A esperança da Igreja está baseada na
ressurreição de Cristo. Sua morte e ressurreição são a garantia total de que
Ele voltará. Sua vitória sobre a morte foi com glória, triunfo e poder.
A doutrina da ressurreição tem forte base
escriturística. O Salmista fala da esperança da ressurreição quando diz: “Mas
Deus remirá a minha alma do poder da sepultura, pois me receberá” (Sl 49.15).
No Novo Testamento o ensino da ressurreição ganha maior espaço que no Antigo
Testamento. Paulo fala da “aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual
aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo Evangelho” (2 Tm
1.10). Jesus enfatizou e deu um sentido especial à doutrina da ressurreição (Jo
5.28,29). Portanto, o que Jesus deixa claro é que não haverá uma única, geral e
simultânea ressurreição para os mortos, e sim que ela acontecerá em duas fases
distintas: a ressurreição dos justos e a dos ímpios.
A ressurreição, em sua natureza, deve
ser estudada mediante cinco aspectos:
1. A ressurreição será seletiva, mas
não discriminativa. A salvação é oferecida a todos de igual modo. Deus
não seleciona raça, nação, tribo ou classe social para a salvação. Porém, a
ressurreição será seletiva em relação aos que fazem parte da primeira e os da
segunda. Ela é seletiva quanto ao modo como se processará.
2. A ressurreição será universal. O
caráter geral da ressurreição é universal, porque justos e injustos hão de
ressuscitar (Jo 5.28,29; At 24.14,15). Nesse sentido a Bíblia descreve esse
fato como a “ressurreição dos mortos”, que tem um caráter geral.
3. A ressurreição será dupla. Porque
se trata da distinção dos justos e a dos ímpios (Jo 5.29; Dn 12.2; Ap 20.4,5).
Os justos participarão da primeira ressurreição. Os ímpios participarão da
segunda ressurreição (Ap 20.13-15).
4. A ressurreição será literal e
corporal. Jesus confirmou a doutrina da ressurreição literal
e corporal (Jo 5.25,28,29). Jesus ressuscitou corporalmente, por isso, o seu
corpo ressurreto, mesmo estando revestido de espiritualidade, podia ser tocado
e visto (Lc 24.39; At 1.9-11). Quando a Bíblia fala de “corpo espiritual” não
anula a realidade da ressurreição de um corpo material, porque o mesmo será
revestido de um corpo espiritual (1 Co 15.42).
5. A ressurreição é obra da Trindade
divina. Há uma relação triuna na obra da ressurreição. Há
textos bíblicos que atribuem a ressurreição a Deus, sem especificar qual pessoa
da Trindade (Mt 22.29; 2 Co 1.9). Algumas vezes, a obra da ressurreição é
atribuída ao Filho Jesus (Jo 5.21,25,28,29; 6.38-40,44,54; 1 Ts 4.16). Outras
vezes, temos a mesma obra atribuída ao Espírito Santo (Rm 8.11). Não há
divisão, nem competição entre as três pessoas da Trindade.
“Tal como o corpo de Jesus, o corpo
ressurreto, do qual Ele é a vida animadora, não será nem este corpo mortal que
hoje possuímos, nem o espírito desencarnado, mas um corpo espiritual. Um corpo
real e espiritual. Realidade não significa necessariamente tangibilidade. Será
o ar menos real do que o chumbo, ou o som menos real do que um gramado, ou a
luz menos real do que uma pedra? Há a carne de um bebê, tão suave que você a
toca com cuidado para não machucá-la, e há a carne de um rinoceronte, que você
não consegue atravessar nem com bala de rifle. Assim é o corpo ressurreto —
real, mas uma realidade gloriosa jamais dantes conhecida. Trata-se de um corpo
espiritual de vida humana imortalizada pela vida ressurreta de Jesus.” (Nathan
R. Wood, de uma preleção feita na Gordon Divinity School, Boston, Mass., 1944).
“A Bíblia declara que seremos como
Jesus quando o virmos por ocasião de sua vinda (1 Jo 3.2). Nossos corpos serão
gloriosos e dotados de esplendor e beleza; serão corpos poderosos e apropriados
às regiões celestiais. Essa mudança será repentina e sobrenatural. Isto
acontecerá ao soar da última trombeta. Então, encontrar-nos-emos com o Senhor
nos ares; e, com Ele estaremos para sempre (1 Ts 4.17).” (Doutrinas Bíblicas,
CPAD)
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