EVANGELIZAR MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA
A
relação entre evangelização e responsabilidade social
O
Pacto de Lausanne (1974), com suas francas declarações sobre "A Natureza
da Evangelização" e "A Responsabilidade Social Cristã” (Pacto de Lausanne, par. IV e V), foi muito bem aceito. Esta última inclui a
afirmação de que "a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parcelas
do nosso dever cristão". Uma vez mais, porém, trata-se apenas de uma
declaração do tipo "tanto... quanto". Os parágrafos sobre
evangelização e responsabilidade social encontram-se lado a lado, sem qualquer
tentativa de relacionar um com o outro. Ou, para ser mais preciso, a
única menção de uma relação entre os dois é a declaração, no parágrafo VI, de
que "o serviço de evangelização abnegada figura como a tarefa mais urgente
na missão da igreja".
O
Movimento de Lausanne tem permanecido fiel a sua afirmação sobre a prioridade
da evangelização, e sua "Consulta sobre a Relação entre a Evangelização e
a Responsabilidade Social", realizada em Grand Rapids, em 1982, endossou e
explicou de duas formas essa primaria. Primeiro, a evangelização tem uma
certa prioridade lógica: "O próprio fato da responsabilidade social
cristã pressupõe a ideia de cristãos socialmente responsáveis, e isto só
acontecerá através da evangelização e do discipulado." Em segundo lugar, a
evangelização tem relação com o destino eterno das pessoas; e, trazendo-lhes
boas novas de salvação, os cristãos estão fazendo uma obra que ninguém mais
pode fazer. Raras serão as ocasiões, se é que elas ocorrerão, em que
nós teremos que optar entre... curar o corpo ou salvar a alma... No
entanto, se tivermos que fazer esta opção, é bom lembrarmos que a necessidade
suprema e máxima de todo ser humano é a graça salvadora de Jesus Cristo.
Portanto, a salvação espiritual e eterna de uma pessoa é de maior importância
do que o seu bem-estar temporal e material.
O
Manifesto de Manila (1989) tem uma declaração similar: "A evangelização é
primordial porque o que mais nos preocupa é o evangelho, que todas as pessoas
possam ter a oportunidade de aceitar Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador."
Só
que reafirmar a prioridade da evangelização não resolve o problema. A relação
entre evangelização e responsabilidade social continua indefinida.
Foi
para perseguir essas relações que se convocou a Consulta de Grand Rapids em
1982. Seus membros esclareceram três delas. Primeiro, afirmaram que "a
ação social é uma consequência da evangelização", pois a evangelização
conduz as pessoas à fé, "a fé atua pelo amor" e o amor se manifesta
em serviço (Cf. Gl 5.6, 13). Na verdade, "mais do que uma
simples consequência da evangelização, a responsabilidade social é um dos seus
principais objetivos", uma vez que nós somos salvos "para boas obras”
(Cf. Ef 2.10; Tt 2.14). Em segundo lugar, "a atividade social pode
ser uma ponte para a evangelização". Apesar do perigo de produzir os assim
chamados "cristãos de arroz", que se dizem convertidos apenas por causa dos
benefícios materiais que lhes são oferecidos, ainda assim é verdade que
o amor em ação "pode destruir preconceitos e desconfianças, abrir portas
fechadas e ganhar a atenção das pessoas para o evangelho". Em terceiro
lugar, "a ação social não apenas vem em seguida à evangelização, como seu
objetivo e consequência, e a precede, servindo-lhe de ponte, mas também a
acompanha, como sua parceira. A ação social e a evangelização são como as duas
lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro", tal como
sucedeu no ministério público de Jesus. "Trata-se de um verdadeiro
casamento."
Essa
parceria aplica-se tanto ao cristão, individualmente, como à igreja local. Obviamente, cada cristão recebe um dom e um chamado
diferente, que o habilitam a concentrar-se em ministérios específicos, assim
como os Doze foram chamados para um ministério pastoral e os Sete para um
ministério social (At 6.1-7).
É igualmente óbvio que diferentes cristãos encontram-se em diferentes situações
de necessidade, e que cada uma requer uma resposta específica. Nós
não estamos acusando, nem o "bom
samaritano", por atar as feridas do viajante sem indagar sobre o
seu estado espiritual, nem Filipe,
por compartilhar o evangelho com o etíope sem inquirir as suas necessidades
sociais. Estes foram, no entanto, chamados específicos e situações específicas.
Falando em termos gerais, todos os seguidores de Jesus Cristo têm a responsabilidade
de testemunhar e de servir, de acordo com as oportunidades que lhes forem
dadas.
O
mesmo se dá com cada igreja local. As necessidades de cada comunidade são
muitas e variadas. Mas todo mundo não pode fazer tudo. Consequentemente, qualquer que seja o tamanho da
igreja, seus membros deveriam ser encorajados a se organizarem em "grupos
de estudo e ação", conforme os seus dons, vocações e interesses, assumindo
cada um deles uma necessidade evangelística, pastoral ou social específica da
vizinhança. Desta forma se poderá atender a uma porção de diferentes
desafios. Não obstante, é importante que a igreja local reconheça a
especialidade de cada grupo e apoie a cada um com palavras de encorajamento,
conselhos, oração e finanças, conforme necessário, dando-lhes, de vez em
quando, a oportunidade de apresentar relatórios sobre o andamento do seu
trabalho.
Ao
desenvolver junto a cada grupo este senso de pertença, a igreja conseguirá,
através deles, atingir a comunidade o ministrá-la compassivamente em muitas e
variadas necessidades.
Até
aqui nós vimos as relações existentes entre a evangelização e a
responsabilidade social. O segundo problema que enfrentamos tem a ver com o
vocabulário que deveríamos usar para expressar a parceria entre os dois.
Conforme o relatório do Primeiro Congresso Anglicano Evangélico Nacional,
realizado na Universidade de Keele, em 1967, "evangelização e serviço
abnegado andam juntos na missão de Deus” (Keele '67, The National EvangelicalAnglican Congress Statement, ed. Philip Crowe (Falcon, 1967), par. 2.20, p. 23.).
Eu
mesmo tentei, posteriormente, elaborar esta ideia ao escrever: "'Missão'
descreve... tudo que a igreja é enviada a fazer no mundo", a saber,
"serviço cristão no mundo, compreendendo tanto evangelização como ação
social."
Certos
líderes evangélicos criticam esta definição de "missão". Eles a consideram
potencialmente prejudicial à missão cristã, pois desvia os missionários de suas
tarefas prioritárias de evangelizar, discipular e plantar igrejas.
Por esta razão, mesmo admitindo que todos os cristãos têm também responsabilidades
sociais e políticas, eles acham que, ao referir-nos a estas atividades
evangelísticas, deveríamos continuar usando o conceito tradicional de
"missão" e "missionário". Sem dúvida alguma, a última coisa
da qual eu gostaria que me culpassem é de estar atrapalhando a missão da
igreja! É igualmente verdade que o próprio termo "missão" não é uma palavra bíblica, assim como não o são as
palavras "Trindade" e "sacramento". No entanto, ela é uma peça
útil e prática para um conceito bíblico, por demonstrar aquilo que Cristo envia
o seu povo a fazer no mundo. Continuo insistindo que isto não pode limitar-se à
proclamação do evangelho, embora eu já tenha mencionado que esta é tarefa
prioritária na igreja. A questão não é meramente de semântica (o que significa
a palavra "missão"?), mas de substância (por que somos enviados ao
mundo?). Mesmo que tivéssemos de admitir que a palavra "missão" não
pode suportar o peso que venho colocando sobre ela, isto não faria diferença
alguma para o argumento de que nós somos enviados ao mundo tanto para
testemunhar como para servir. De igual maneira, eu não me sinto capaz de abrir
mão da convicção de que nossa missão tem em Cristo o modelo a ser seguido.
Assim como o seu amor por nós é comparável ao amor do Pai por ele (Jo 15.9), assim também ele nos envia ao mundo de forma
similar ao envio que ele recebeu do Pai (Jo 17.18; 20.21). Se em seu ministério as palavras e as obras
andavam juntas, da mesma forma elas deveriam andar juntas em nosso ministério.
Parece
que o maior temor daqueles que me criticam é o de que os missionários sejam
deixados de lado. A melhor maneira de evitar isso, a meu ver, é não negando que
"missão" é algo mais abrangente do que evangelização, insistindo,
porém, em que cada "missionário" deve ser fiel ao seu chamado
específico. Eu já disse que na igreja local, embora alguns membros sejam
chamados, uns para este ministério, outros para aquele, mesmo assim a própria
igreja fica desequilibrada caso não abranja uma variedade de ministérios. Da
mesma forma, embora alguns missionários sejam chamados para evangelizar ou
para o discipulado, plantação de igrejas ou tradução da Bíblia, e outros para
ministérios específicos e especializados, como médicos, educadores e
especialistas em áreas de desenvolvimento, mesmo assim a igreja nacional (bem
como as agências missionárias que com ela cooperam) ficariam capengas
se não abraçassem também essa ampla variedade de ministérios. Com efeito,
poderíamos citar muitos exemplos de equipes missionárias multinacionais e
multifuncionais, compostas tanto de nacionais como de estrangeiros, de homens
e mulheres, evangelistas e assistentes sociais, especialistas em plantação de
igrejas e em áreas de desenvolvimento, pastores e professores.
A
base bíblica para a parceria
Ser
cristão evangélico sem ser cristão bíblico é igual a nada. Pelo menos nosso
maior desejo (quer consigamos realizá-lo ou não) é viver "sob" e
"de acordo com" a Escritura. Haveria, portanto, uma boa base bíblica
para manter juntos a evangelização e a ação social? Existe, sim. Ela tem sido
afirmada de diversas formas, mas vou me contentar com três argumentos
fundamentais.
Primeiro,
o caráter de Deus. O Deus da revelação bíblica, que é tanto Criador como
Redentor, é um Deus que se preocupa com o total bem-estar (espiritual e
material) de todos os seres humanos que ele criou. Tendo criado cada um à sua
própria imagem, ele deseja que eles descubram a sua verdadeira humanidade ao se
relacionarem com Deus e uns com os outros. Por um lado, Deus busca ansiosamente
suas criaturas perdidas. Ele não tem prazer algum na morte do ímpio, e não quer
que ninguém pereça. Por isso, roga-lhes que ouçam a sua Palavra, que voltem
para ele em penitência e que aceitem o seu perdão. Por outro lado, Deus se
importa com os pobres e os famintos, os estrangeiros, as viúvas e os órfãos.
Ele denuncia a opressão e a tirania e clama por justiça. Ele espera que o seu
povo seja a voz daqueles que não têm voz e o defensor dos impotentes,
expressando assim o seu amor por estes. Não é, pois, por acaso, e nem é de se
estranhar, que os dois grandes mandamentos de Deus sejam que o amemos com todo
o nosso ser e que amemos o nosso próximo como a nós mesmos.
A
lei deixa bem claras as implicações destes mandamentos. Por exemplo:
o povo de Deus devia "temer", "amar" e "servir" a
ele. Como? Em parte, "andando em seus caminhos" e "guardando os
seus mandamentos", pois ele é "o Deus dos deuses e o Senhor dos
senhores", o qual, por isso mesmo, merece ser adorado; e, em parte,
seguindo o seu exemplo, como aquele que "faz justiça ao órfão e à viúva, e
ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes" (Dt 10.12-20). Assim, adoração e obediência, por um lado, e
filantropia e justiça, por outro, andam de mãos dadas, constituindo-se no duplo
dever do povo de Deus.
E
aí vieram os profetas, que viviam relembrando o povo quanto à lei e advertindo
cada um deles a obedecê-la. "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que
é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia,
e andes humildemente com o teu Deus?" (Mq 6.8). Mais uma vez, justiça e misericórdia para com o
próximo e humildade diante de Deus estão juntos.
Junto
com esse testemunho profético com relação à lei de Deus ocorriam ousadas
denúncias contra aqueles que a desprezavam. Elias foi um bom exemplo disso.
Vivendo num tempo de apostasia nacional, seu ministério teve o seu ápice em
dois grandes confrontos, primeiro no Monte Carmelo, quando ele desafiou o povo
a escolher entre Javé e Baal (1Rs 18),
e depois em Jezreel, quando ele acusou o rei Acabe de haver matado Nabote e
confiscado sua propriedade, e o advertiu quanto ao juízo de Deus (1 Rs 21). É impressionante ver como os mesmos profetas
defendiam, tanto a lealdade religiosa como a justiça social.
Então,
cento e cinquenta anos mais tarde, nós encontramos dois grandes profetas do
exílio, Jeremias e Ezequiel, dando continuidade à mesma tradição de protesto.
Por que a desgraça haveria de cair sobre Jerusalém? De acordo com Jeremias,
porque o povo havia "deixado" Javé em favor de "outros deuses,
que não conheceram", e enchido Jerusalém com o "sangue de
inocentes" (Jr 19.4). Conforme Ezequiel, a cidade tinha
trazido juízo sobre si mesma ao derramar sangue no seu meio e ao fazer
ídolos (Ez 22.3-4; cf. 36.18-19). Em ambos os casos, o cúmulo do
pecado de Israel fora a combinação de "ídolos" com
"sangue", sendo a idolatria o pior pecado contra Deus e o assassinato
o pior dos pecados contra o próximo.
Assim,
a lei e os profetas refletem o caráter de Deus. Aquilo que ele é, também
o seu povo deveria ser, compartilhando e refletindo aquilo que interessa a ele.
Não há dualismo no pensamento de Deus.
Nossa
tendência é contrapor totalmente as ideias de corpo e alma, indivíduo e
sociedade, redenção e criação, graça e condição natural, céu e terra,
justificação e justiça, fé e obras. A Bíblia certamente faz distinção entre
essas ideias, mas faz também uma relação entre elas, instruindo-nos a manter
cada um desses pares em equilíbrio dinâmico e criativo.
A
segunda base para que evangelização e preocupação social andem juntas é o
ministério e o ensinamento de Jesus. Não há como duvidar de que palavra e ação
estavam juntas no ministério público de Jesus. Ele foi um pregador, isso é
verdade. Ele anunciou a vinda do reino de Deus. Mas também demonstrou a vinda
deste através de suas obras de compaixão e de poder. Assim, nós lemos que ele
"percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar" (Mc 6.6) e também que ele "andou por toda parte,
fazendo o bem e curando" (At 10.38).
Qual é a similaridade existente entre estas duas afirmações? É o fato de que
"ele andava"; ele desenvolveu um ministério itinerante e percorreu o
território palestino de ponta a ponta. A dissimilaridade tem a ver com
"para que" ele andava por aí. Segundo Marcos, era para
"ensinar"; conforme Lucas, era "fazendo o bem e curando".
Havia em seu ministério um elo indissolúvel entre evangelizar e servir. Ele
demonstrava em ação o amor de Deus que estava proclamando. "Sua
preocupação", escreveu Chuck Colson, "não era apenas salvar
pessoas do inferno no mundo vindouro, mas também livrá-las da enfermidade deste
mundo presente." (Charles Colson, Loving God (Zondervan, 1983), p. 145).
Dessa
forma, suas palavras explicavam suas obras e suas obras eram uma manifestação
concreta de suas palavras.
Ouvir
e ver, voz e visão, estavam ligados. Uma coisa sustentava a outra.
Afinal, as palavras só deixam de ser abstratas quando se concretizam em atos de
amor; e as obras, de igual maneira, continuam sendo ambíguas, até que sejam
interpretadas pela proclamação do evangelho. Palavras sem ação não têm
credibilidade; ações sem palavras carecem de esclarecimento. Assim, as ações
de Jesus tornavam visíveis suas palavras; e suas palavras tornavam suas ações
inteligíveis.
O
que Jesus demonstrou em sua vida e ministério ele também incluiu em seus
ensinos. Deixem-me compartilhar com vocês uma reflexão sobre duas das suas parábolas
mais conhecidas e apreciadas: a do filho pródigo (Lc 15.11-32) (que se concentra na conversão) e a do bom
samaritano (Lc 10.30-37) (que enfatiza a ação social). Existem
entre elas similaridades óbvias. Ambas, por exemplo, só são registradas pelo Dr.
Lucas, que se preocupava em retratar Jesus (e, portanto, Deus) como o amante
dos estrangeiros e dos injustiçados — no primeiro caso, o jovem obstinado e, no
outro, a vítima dos espancadores. Semelhantemente, ambas refletem situações
trágicas que, pelo que está implícito, desagradam a Deus. Deus não quer que
seres humanos criados à sua imagem sejam desmoralizados e fiquem perdidos em
uma terra distante, nem que sejam assaltados e abandonados na sarjeta. Seu
desejo é que tanto o perdido como o espancado sejam trazidos de
volta para casa.
Entretanto,
o que mais importa para o meu propósito agora são as dissimilaridades entre as
duas parábolas. Se nós as conservamos juntas, elas servirão de reforço para a
ligação necessária entre evangelização e ação social. Primeiro, tanto numa como
na outra, existe uma vítima, um homem que se encontra em uma situação de
desespero. Na parábola do filho pródigo, ele é vítima de seu próprio pecado; na
parábola do bom samaritano, é vítima do pecado de outros, ou seja, alguém pecou
contra ele. Além disso, na primeira parábola, o que se descreve é um pecado
pessoal; na segunda, é um pecado social, ou seja, o mal da desordem publica.
Ambos deveriam despertar nossa compaixão. Nós nos preocupamos tanto com aquele
que pecou como com aquele contra quem alguém pecou.
Em
segundo lugar, nas duas parábolas existe um resgate - da alienação em uma terra
distante e de um violento assalto na estrada. Na primeira parábola o pecador se
arrepende, volta para casa e é perdoado (é a
salvação pela fé). Na segunda, a vítima não pode fazer nada: deve o seu
resgate à caridade do samaritano (é um resgate
pelas boas obras). Terceiro, em ambas há uma demonstração de amor. Na
parábola do filho pródigo nós vemos o amor de Deus, como o pai que recebe o filho
de volta; na parábola do bom samaritano, vemos o amor do próximo pelo seu
próximo, quando o samaritano ata as feridas da vítima. Além do mais, em ambos
os casos o amor triunfa sobre o preconceito. O pródigo é perdoado, apesar de
não merecer tal tratamento; o samaritano se apieda da vítima dos ladrões,
apesar de ser este um judeu desconhecido que nada tem a ver com ele.
Em
quarto lugar, em ambas as parábolas há um subenredo, que representa a
alternativa para aquilo que se está recomendando. Na parábola do filho pródigo,
seu irmão mais velho recusa-se a regozijar-se com o seu arrependimento e
retorno. Na parábola do samaritano, o sacerdote e o levita recusam-se a
envolver-se com a situação do homem espancado. Até se poderia dizer que quem
resiste ao chamado para evangelizar, abandonando as pessoas sozinhas em seus
pecados, assemelha-se ao irmão mais velho, ao passo que aqueles que resistem ao
chamado para a ação social e deixam as pessoas sozinhas em seus sofrimentos,
lembram o sacerdote e o levita que "passaram de largo".
Assim,
cada uma das parábolas enfatiza um aspecto vital do discipulado cristão — seu
início, quando, como o filho pródigo, nós voltamos para casa em busca de
salvação, e sua continuação, quando, à semelhança do bom samaritano, nós
partimos em missão. Cada um de nós lembra o filho pródigo; cada um de nós
deveria lembrar o samaritano.
Primeiro
nós encaramos os nossos próprios pecados e depois passamos a encarar os
sofrimentos do mundo. Primeiro nós entramos em casa e recebemos misericórdia, e
só depois saímos e mostramos misericórdia. Misericórdia não se pode mostrar
enquanto não for recebida; mas, uma vez recebida, ela deve ser demonstrada aos
outros. Não vamos divorciar aquilo que Cristo uniu. Todos nós já fomos pródigos
um dia; Deus deseja que também sejamos samaritanos.
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