Preservando
a doutrina — A missão conservadora da
Igreja.
2 Pedro 2.1-4.
1 - E também houve entre o povo falsos
profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão
encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou,
trazendo sobre si mesmo repentina perdição.
2 - E muitos seguirão as suas dissoluções,
pelos quais será blasfemado o caminho da verdade;
3 - e, por avareza, farão de vós negócio com
palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença,
e a sua perdição não dormita.
4 - Porque, se Deus não perdoou aos anjos que
pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da
escuridão, ficando reservados para o Juízo.
introdução
Palavra Chave
Doutrina: No Novo Testamento, a palavra
grega mais empregada para doutrina é didachē,
cujo sentido é “instrução” e “ensino”. A igreja primitiva fazia uso do vocábulo didachē para referir-se “a doutrina dos
apóstolos” (At 2.42).
O ensino das Escrituras deve ser, antes
de mais nada, ortodoxo. Todo ensino bíblico-doutrinário deve ser estritamente
de acordo com a mensagem divina revelada no Antigo e Novo Testamentos. Tal
ortodoxia cristã tem nas Sagradas Escrituras a única fonte do verdadeiro
conhecimento de Deus, de suas doutrinas e da maravilhosa salvação em Cristo
Jesus.
I. A ORTODOXIA DOUTRINÁRIA DA IGREJA
A palavra ortodoxia na religião
cristã significa: “absoluta conformidade com um princípio ou doutrina bíblica”.
1. Cristo está edificando a sua
Igreja. Aos discípulos, Jesus declarou que edificaria sua
igreja (Mt 16.18). O fundamento e as colunas (pilares) desse edifício são as
doutrinas bíblicas fundamentais, as quais dão sustentação a esse edifício
espiritual (1 Co 3.9,10,16). A Igreja é edificada sobre “o fundamento dos
apóstolos e dos profetas, de que Jesus é a principal pedra de esquina” (Ef
2.20). A ordem da frase “apóstolos e profetas” deixa claro que a “doutrina dos
apóstolos”, citada em Atos 2.42, refere-se ao ensino que receberam de Jesus e
que foram comissionados a ensinar. Não se tratava de uma doutrina particular
dos apóstolos Pedro, João, Tiago ou Paulo, mas a mesma ensinada por Jesus. A
referência aos profetas trata-se dos profetas da igreja primitiva que
confirmavam, pelo Espírito Santo, as doutrinas ensinadas. A ordem da frase apóstolos e profetas indica
tratar-se do dom profético naqueles dias outorgado pelo Espírito Santo (Ef
4.11).
2. Os edificadores desse edifício (1
Co 3.10,11). Paulo ilustra que a edificação da Igreja é efetuada
pelos ministros do Senhor. No versículo 11, a Bíblia declara que “ninguém pode
colocar outro fundamento além do que já está posto”. No texto de Efésios 4.11,
vemos os edificadores que Deus tem dado à Igreja, tais como “apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres”. Eles usam os materiais da
doutrina cristã para construir este edifício espiritual.
II. A IGREJA É GUARDIÃ DA SÃ DOUTRINA
A Igreja de Cristo é vista numa
linguagem figurada como “casa” e “família” (1 Tm 1.2,18; 2.13-15). A Bíblia, em
1 Timóteo 3.15, usa a expressão “coluna e firmeza” que fala de suporte, apoio, sustentáculo de
uma construção. A lição que aqui podemos aprender é que devemos fielmente
preservar aquilo que temos recebido da parte do Senhor. A verdadeira igreja é
aquela que se mantém em tudo fiel à sã doutrina bíblica.
1. O significado de “coluna e firmeza
da verdade” (1 Tm 3.15). Consoante à Igreja, esses termos indicam a função
do Corpo de Cristo no que se refere à Verdade. O comportamento requerido da
Igreja, conforme o texto “para que saibas como convém andar na casa de Deus”,
revela sua natureza, no sentido de que ela deve ter um comportamento digno e
santo em relação ao mundo pecador. Isso porque a “Igreja do Deus vivo” é um
povo santo, separado do pecado e do mundanismo. Portanto, a Igreja é a
demonstração viva e santa da Verdade do evangelho. Seu papel é o de sustentar,
manter e defender a Verdade contra todo erro e oposição intelectual, religiosa
e filosófica dos falsos mestres. A Verdade foi confiada à Igreja, e todo erro e
heresia devem ser refutados por ela (1 Tm 6.3-5; 2 Tm 2.18; 3.8; 4.4).
2. A Verdade no contexto de 1 Timóteo
3.15. Essa Verdade do evangelho é o vastíssimo conteúdo
doutrinário da fé cristã. A Igreja tem a missão de viver e representar essa
Verdade, mas também de mantê-la e defendê-la de toda oposição que se lhe ataca.
III. A PRESERVAÇÃO DA ORTODOXIA DOUTRINÁRIA PELA
IGREJA
1. O perigo das infiltrações
heréticas na igreja. Três textos nos alertam contra essas ameaças:
a) Atos 20.28-30 fala
de “lobos cruéis” que entrariam no meio do povo de Deus. Esses lobos
representam falsos obreiros que só cuidam de si próprio, e não do rebanho do
Senhor.
b) 2 Pedro 1.1,2 refere-se
“aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa”. Essa fé preciosa
deve ser vivida e ensinada a todas as pessoas.
c) Gálatas 1.6,10 menciona
pessoas que experimentam a graça de Deus e, facilmente, abandonam a “fé
recebida” e a trocam por “outro evangelho”.
2. Fatos danosos que facilitam o
surgimento de heresias e outros males semelhantes. Vejamos
dois desses fatos ou casos que ocorrem e surgem no seio da Igreja, os quais
ocasionam o surgimento de heresias e outros males semelhantes.
a) Imaturidade espiritual. Há
uma nítida distinção entre uma criança e um adulto na fé cristã (1 Pe 2.2). O
recém-nascido na fé requer cuidado especial por ser mais vulnerável às
heresias. Tal pessoa quer experimentar tudo que lhe é oferecido. Há também,
nesse contexto da imaturidade espiritual, os crentes movidos por emoção, os
quais mudam de atitude ante o vento de doutrina que sopre diferentemente. São
facilmente seduzidos quanto à fé por pessoas fraudulentas (2 Tm 4.3).
b) Subversão espiritual. Isso
pode ocorrer com pessoas na igreja que, além de imaturas, são carnais, que se
deixam levar por novas idéias, princípios e atitudes sem respaldo bíblico. Elas
promovem confusão doutrinária, renegam a fé recebida, e forjam outras doutrinas
fora dos princípios básicos da doutrina cristã defendidos na Bíblia Sagrada.
Além disso, em nome de uma falsa revelação espiritual, contrariando toda a
revelação bíblica, distorcem a verdade de acordo com suas conveniências
pessoais e desvirtuam o texto bíblico de várias maneiras, para adaptá-lo ao seu
modo de crer; aos seus conceitos pessoais.
É necessário que a Igreja de Cristo
mantenha-se sempre vigilante e precavida contra as heresias que contestam as
verdades fundamentais da fé cristã, segundo o que está escrito na Palavra de
Deus. Esta é uma das cautelas para a Igreja evitar os erros doutrinários e
combater as heresias.
“Doutrina e ortodoxia
1. Definição de doutrina. Na
Bíblia Almeida Revista e Corrigida o termo ‘doutrina’ aparece cinqüenta vezes,
enquanto na Almeida Revista Atualizada, cerca de trinta e nove vezes. Todas
traduzem os termos leqach, torah e didachē por doutrina, classificando-a como ‘doutrina pura’
(Jó 11.4); ‘boa doutrina’ (Pv 4.2); ‘doutrina do sábio’ (Pv 13.14); ‘doutrina
dos fariseus’ (Mt 16.12); ‘doutrina dos apóstolos’ (At 2.42); ‘doutrina do
Senhor’ (At 13.12); ‘sã doutrina’ (1 Tm 1.10); ‘doutrina de demônios’ (1 Tm
4.1); ‘doutrina de Deus’ (Tt 2.10); ‘doutrina de Cristo’ (Hb 6.1); ‘doutrina de
Balaão’ (Ap 2.14); ‘doutrina dos nicolaítas’ (Ap 2.16).
O termo ‘doutrina’ nos textos de Dt
32.2; Jó 11.4 e Pv 4.2, é a tradução do hebraico leqach, isto é, ‘ensino’, ‘aprendizagem’ ou ‘poder de
persuasão’ de quem ensina (Pv 16.21).
Nas páginas do Novo Testamento, a
palavra grega mais empregada é didachē, cujo sentido é ‘instrução’,
‘ensino’ ou ‘doutrina’ (Mc 1.22,27; 11.28; Jo 7.16,17; Mt 22.33).
2. Uso corrente. A
igreja cristã primitiva usava o vocábulo didachē para
referir-se à doutrina dos apóstolos (At 2.42), ou à doutrina do Senhor (At
13.12), que era, na verdade, a exposição do evangelho de Cristo.
O apóstolo Paulo também usou o termo
diversas vezes, a fim de descrever o conjunto de ensinos e crenças que
compunham a pregação cristã primitiva (Rm 6.17; 16.17; Ef 6.4; 1 Tm 1.3; 4.16;
6.3).
Essa mesma tradição, chamada
posteriormente de ‘kerygma’
pelos teólogos, é mencionada na teologia paulina como ‘a pregação (kerygma) de Jesus Cristo, conforme a
revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto’ (Rm 16.25; 1 Co
1.21; 2.4; 15.14).
Segundo o apóstolo João, esse
arcabouço de ensinos constitui a ‘doutrina de Cristo’ (2 Jo 1.9). A doutrina,
portanto, é o conjunto de ensinos e crenças que constituem o cânon de fé e
prática do cristão.
3. A proclamação da doutrina de Cristo. O kerygma é tanto a mensagem, a pregação, quanto a substância
do que é pregado. O kerysso era um arauto ou proclamador, conforme os textos de
Mt 3.1; Mc 1.45; Lc 4.18,19; 12.3; At 10.37; Rm 2.21; Ap 5.2.
Os apóstolos foram comissionados por
Jesus para serem os proclamadores do Reino de Deus. Jesus capacitou formal e
espiritualmente os apóstolos para que interpretassem a sua vida e os seus
ensinos conforme as Escrituras do Antigo Testamento (Lc 24.44-47). Esse
conjunto de interpretações (dos ensinos, vida, morte, ressurreição e exaltação
de Cristo) é chamado, nas Escrituras Neotestamentárias, de pregação, evangelho
ou a doutrina de Cristo (2 Jo v.9).
A doutrina de Cristo, como se
depreende de textos semelhantes ao de 2 João v.9, é o conjunto de todos os
ensinos de Cristo, como os encontramos em o Novo Testamento. Não se limita
apenas às palavras ensinadas por Jesus, mas estende-se também ao mistério da
encarnação do Verbo, ministério terreno, paixão, morte, ressurreição e
exaltação de Cristo. Jesus confiou aos seus apóstolos a transmissão de seus
ensinos”.
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