A RENUNCIA
Lucas 9.23-26; 14.33.
Lucas 9
23 - E dizia a todos: Se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me,
24 - Porque qualquer que quiser
salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua
vida a salvará.
25 - Porque que aproveita ao
homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?
26 - Porque qualquer que de mim e
das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem,
quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos.
Lucas 14
33 - Assim, pois, qualquer de vós
que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
A renúncia é a base para o verdadeiro
discipulado cristão. O autêntico discípulo de Cristo, que pretende segui-lo sem
restrições, reconhece que para servi-lo integralmente, deve estar desprendido
de tudo que representa embargo à plena comunhão com seu Senhor.
Ninguém pode entrar no caminho que
leva à inefável realização em Cristo sem a renúncia. A verdadeira vida e
felicidade consiste no abandono dos nossos próprios caminhos para vivermos em
comunhão com Jesus, conforme o ensino de sua Palavra.
O crente que abre mão de tudo por
amor a Cristo, de modo que possa entrar na experiência gratificante do
discipulado vigoroso, descobre que entrou na vida que é vida de fato. “Mas
qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará”, disse Jesus.
D
Jesus requer a renúncia do crente
quanto às suas propriedades, famílias e à sua própria vida. Poucas pessoas
conseguem romper com a natureza carnal, a fim de renunciar a si próprias e
darem lugar a Deus. Essa era uma característica peculiar da expressão espiritual
de Cristo. Paulo imortalizou essa atitude em Filipenses 3.7-11.
Para que seus alunos compreendam mais
claramente o ensino do Mestre sobre a renúncia, leia juntamente com eles o
texto de Fp 3.7-11 e faça as seguintes reflexões:
1) Vocês já abdicaram alguma coisa
que consideravam extremamente importante por amor a Cristo?
2) Existe, ainda, alguma coisa em sua
vida que precisa renegar ou preterir para seguir a Cristo?
3) Vocês estariam dispostos, a
exemplo de Paulo, sofrerem aflições por amor a Jesus?
Estas e outras questões poderão ser
levantadas com o intuito de conduzir seus alunos a refletirem sobre a seriedade
e o compromisso do verdadeiro discípulo de Cristo.
As pessoas descrentes ouvem o
evangelho e muitas delas entendem que ele é a verdade de Deus para a salvação.
Entretanto, a natureza humana, decaída por causa do pecado, resiste em aceitar
Cristo como Salvador, em virtude de ter que abrir mão de seus próprios
interesses, dos prazeres efêmeros, das amizades, da opinião dos parentes, dos
amigos, que são contrários a uma decisão tão séria, que implica mudar
completamente a maneira de ser, de viver, de pensar e de agir. Nesta lição,
veremos que Jesus foi bastante incisivo com relação à renúncia, como fator
indispensável para que alguém seja seu discípulo.
I. CONCEITUAÇÃO
Renúncia quer dizer “ato ou efeito de
renunciar” e renunciar significa “não querer; rejeitar, recusar; deixar
voluntariamente a posse de algum bem, de alguma coisa” (Aurélio). Nesta lição,
entenderemos a renúncia, no sentido da pregação de Jesus, significando a
voluntariedade em abrir mão dos próprios interesses, e da própria vida, a fim
de segui-lo fielmente.
É preciso que tenhamos em mente que a
renúncia do seguidor de Cristo não é um ato de alienação, inconsequente,
gratuito e sem propósito. Pelo contrário, quando alguém abre mão de si próprio
para entregar sua vida ao senhorio de Cristo, esse alguém foi conscientizado
pelo Espírito Santo de que o faz porque sabe que terá algo infinitamente melhor
para a sua vida.
II. CONDIÇÕES PARA SEGUIR A JESUS
1. Ter vontade. Jesus
respeita a vontade da pessoa, e essa é uma das mais impressionantes
características do seu relacionamento com o homem. Em sua pregação ele disse: “Se
alguém quer vir após mim...” (Lc 9.23a). Ele não impôs sua
vontade sobre os sentimentos dos pecadores. Nas Escrituras vemos esse traço da
sua personalidade. Numa festa, em Jerusalém, dentro do templo, Ele disse: “Se
alguém tem sede, que venha a mim e beba” (Jo 7.37). Na
carta à igreja de Laodiceia, Jesus escreveu: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir
a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele,
comigo” (Ap 3.20) [Grifo nosso]. Jesus não empurra portas, não força a vontade
humana. É preciso segui-lo voluntariamente.
2. Renunciar a si mesmo. É
o mesmo que negar-se a si mesmo. Jesus disse: “negue-se a si mesmo...” (Lc
9.23b). E isso não é fácil. A natureza humana, após a Queda, tornou-se egoísta,
insensível, individualista, personalista. O “eu” tornou-se uma espécie de
“deus”. Poucas pessoas conseguem romper com a natureza carnal, a fim de
renunciar a si próprias e darem lugar a Deus. Na parábola do semeador (Lc
8.4-15), vemos que uma parte da semente caiu entre os espinhos, e Jesus
explicou que são aqueles que recebem a Palavra com alegria, mas depois, “são
sufocados com os cuidados, e riquezas, e deleites da vida, e não dão fruto com
perfeição” (Lc 8.14). A natureza humana, mesmo a do cristão, tende a
acomodar-se à velha vida, aos velhos costumes. Mas para ser discípulo de Jesus,
é imprescindível renunciar às práticas antigas e más (vide 2 Co 5.17).
3. Renunciar bens, pai, mãe e amigos
(Mc 10.28-30). Um jovem rico entristeceu-se por Jesus ter-lhe dito
que deveria vender tudo o que tinha e segui-lo (Mc 10.17-23). Pedro, então,
disse: “eis que nós tudo deixamos e te seguimos” (Mc 10.28). Jesus deu uma
resposta de sublime sabedoria, dizendo que “ninguém há que, tenha deixado casa,
ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor
de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em
casas, e irmãos, e irmãos e mães, e filhos, e campos, com perseguições, e, no
século futuro, a vida eterna” (Mc 10.29,30). Notemos que, aqui, não há um
ensino impositivo, no sentido de sempre alguém ter que deixar bens, pais e
parentes para seguir a Jesus. Mas Ele disse que não há ninguém que, fazendo
isso, tenha prejuízo, mas que será recompensado, tanto nesta vida, quanto no
porvir (ver Lc 14.33). Na realidade, o que Jesus não aceita é que alguém ame ao
pai, à mãe ou a filhos mais do que a Ele.
4. Tomar cada dia a cruz. “...tome
cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23c). Só toma a cruz quem já decidiu
seguir a Cristo. Tomar a cruz significa renunciar ao seu próprio “eu” (o viver
segundo a carne, fazendo a nossa própria vontade), e de bom grado sofrer por
amor de Cristo. E isso acontece com todo o crente fiel, sincero, humilde e
obediente. Jesus disse: “...no mundo tereis aflições...” (Jo 16.33; ver 2 Tm
3.12). A cruz inclui aflições, tribulações, perseguições, de modo claro e
explícito. Há crentes, infelizmente, que, dominados pelo relativismo e pelo
modernismo, entendem que a vida deve ser de tal forma que não tenha qualquer
sofrimento. Muitos são adeptos da falsa Teologia da Prosperidade, que prega o
paraíso na terra, sem pobreza, sem doença, sem aflições, contrariando a Palavra
de Deus.
III. PERDENDO PARA GANHAR
1. Quem quer ganhar, perde (Lc 9.24). Jesus
colocou diante dos discípulos uma crucial decisão a ser tomada. Ele afirmou que
“qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á”. A vida humana, por melhor
que seja, é efêmera, passageira. Muitas pessoas apegam-se a ela de tal forma,
que rejeitam a Deus, a Cristo e a salvação. Há quem perca a salvação, mesmo
tendo ouvido a Palavra, por causa dos cuidados deste mundo, da sedução das
riquezas (Mt 13.22). Há os que não admitem de modo algum deixar de lado a vida
social, com suas festas, encontros, reuniões de fim de semana; há os que não
querem perder a condição financeira, pois, se tornando cristãos, terão que
renunciar negócios escusos, sonegação de impostos, venda de produtos ilícitos
(bebidas, fumo, jogos, loterias, etc); há os que não querem deixar a
fornicação, o adultério, a prostituição, o homossexualismo, pois tudo isso é a
vida que não querem perder. E, assim, “salvando” a vida, acabam por perdê-la
eternamente, por rejeitarem a salvação em Cristo Jesus.
2. Quem perder, ganha (Lc 9.24b). Por
outro lado, há pessoas que “perdem” a sua vida para salvá-la, pelo fato de
renunciarem às coisas terrenas, e darem lugar às coisas de Deus, aceitando
Cristo como Salvador, cumprindo o que ensinou o Senhor; “mas qualquer que, por
amor de mim, perder a sua vida a salvará”. Na vida espiritual, os que aceitam
Jesus, sabem que estão renunciando a muitas coisas, conscientemente, entendendo
que em Cristo têm muito mais a ganhar nesta vida e na eternidade (ver Mc
10.29,30). Paulo, divinamente inspirado, exclamou: “Porque para mim o viver é
Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1.21).
3. O perdedor insensato (Lc 9.25). Neste
ensino, Jesus fez uma indagação de profundo significado espiritual e
filosófico, após dizer que quem quer ganhar a vida sem Ele, a perderá: “Porque
que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a
si mesmo?”. Ter bens, ganhar dinheiro, comprar objetos, possuir terras, casas,
propriedades, e outras coisas mais, é o sonho da maioria das pessoas. De fato,
há os que querem “granjear o mundo todo”. Daí, porque tantos estão buscando o
enriquecimento ilícito, seja utilizando-se da jogatina, oficial ou não; seja
através de negócios escusos, nas empresas ou nos órgãos públicos, gerando
escândalos, que envergonham a nação. É a avareza, a ganância por dinheiro, que
conduz muitos à perdição. Paulo diz que “o amor ao dinheiro é a raiz de toda
espécie de males” (1 Tm 6.10), levando muitos a se desviarem da fé e se
prejudicarem a si mesmos, como previu Jesus. Testemunho diferente teve o
apóstolo Paulo, quando, em sua carta aos filipenses, escreveu: “Mas o que para
mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda
todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
pelo qual sofri perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para
que possa ganhar a Cristo” (Fp 3.7,8).
CONCLUSÃO
A renúncia para seguir a Cristo é
passo importante na conversão. Para aceitar Jesus, o pecador é chamado a
arrepender-se e crer no evangelho. Para ser discípulo, de modo consciente, ele
descobre que precisa renunciar o mundo com seus prazeres, também à opinião dos
pais e de amigos, e abrir mão de seus conceitos e preconceitos, dando a
primazia ao senhorio de Cristo em sua vida. O ensino de Jesus é claro a esse
respeito, requerendo do crente buscar o reino de Deus em primeiro lugar (vide
Mt 6.33).
“Jamais pedirá o verdadeiro líder aos
seus seguidores o cumprimento de algum dever que ele mesmo não esteja disposto
a realizar. Da mesma forma, Cristo apontou o próprio exemplo aos discípulos.
1. O
espírito sacrificial de Cristo.
‘Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida em resgate por muitos’. Cristo nasceu em lar e lugar humildes;
passou os primeiros trinta anos da sua vida em absoluta obscuridade e, durante
muitos anos, trabalhou como carpinteiro. Embora soubesse ser o Filho de Deus,
jamais reclamou direitos reais. A honra e o serviço do mundo não foram
colocados à sua disposição.
Seu serviço à humanidade não viera
como fruto de posterior decisão: era o propósito pelo qual veio ao mundo. Antes
mesmo de sua vinda já fora determinado: Cristo derramaria a sua vida em favor
da humanidade.
A declaração de Jesus, conquanto
transpirasse humildade, não lhe negava a posição de Filho de Deus. Fosse apenas
um carpinteiro, e seria presunção dizer que não viera para ser servido — isto
não seria novidade. Porém, vinda de Cristo, a declaração é compreensível.
Note-se que o Antigo Testamento
define o Messias como Servo (Is 52.13; 53.12).
2. O
ato sacrificial de Cristo. ‘O filho do homem
veio... para dar a sua vida em resgate por muitos’. Tivesse o Senhor encerrado
com as palavras ‘para ministrar’, e seria mais um na longa lista de mestres que
mostravam à humanidade como viver e depois a deixava lutando no lamaçal do
pecado. Todavia Ele prosseguiu. Suas palavras confirmam ter vindo Ele não
somente para mostrar o caminho da salvação, mas para salvar a humanidade dos
seus pecados”. (Comentário Bíblico, Marcos, CPAD, pág. 100)
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